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AMORES POSSÍVEIS

Sabe aquela história de que “o amor vai aparecer quando você menos esperar”? Acredito que muita gente diz isso apenas por não saber o que falar para quem está triste sozinho. Outros, porque não aguentam mais ver o amigo esperar por algo que não vem nunca. Muita gente só repete o que ouviu, sem pensar. Porque vive no automático, à base de clichês. Mas também acredito que algumas pessoas dizem isso por experiência própria e é dessas que quero falar.

Tem gente que nunca teve um amor e, de tanto ver romances de conto de fadas na TV, nos livros, no cinema e no Facebook e Instagram alheio, encasquetou que quer ter aquilo também. Mais até. Pode ter nascido numa família com um pai e uma mãe apaixonados pelo menos por um tempo. Sempre há um exemplo (do lado de fora) a se mirar. E é nesse parêntese que mora o perigo. No lado de fora.

Não só a grama do vizinho é sempre mais verde, como, de perto, a gente descobre que ela é de plástico, ou está com ervas daninhas, ou precisa ser aparada ou qualquer outro detalhe que faça diferença. Afinal, do lado de fora, sempre se tem a ilusão de que a vida do outro é fácil. O casamento do outro é lindo. O filho da outra é perfeito. O problema é que a gente vive do lado de dentro.

Aí a pessoa que nunca teve um amor, ou teve um que acabou há tempos, vai sentar na sua dor e, com os olhos impregnados dela, vai olhar pros amores vizinhos e dizer: “Minha vida seria tão melhor se eu tivesse um namoro como fulana tem com fulano”. Eu repito aqui a frase lá de cima. É aí que mora o perigo. Do ponto de vista de quem diz isso, o romance entre os fulanos é perfeito, mas o observador não sabe as concessões que fulano teve que fazer para ficar com fulana. Se ela nunca mais foi à dança de salão porque ele não aceita, se ele não vai mais às peladas com amigos por causa dela, se ele ou ela aturam uma sogra chata pra caralho. Não sabe. Quem está de fora não sabe. Só vê o fato de que “a fulana tem um amor e eu não tenho”.

Por que isso acontece? Por dois motivos. Um: as pessoas idealizam demais o amor. Na vida real, ele é lindo sim, mas é muito mais cheio de defeitos do que se imagina. Dois: há pessoas que não conseguem ficar sozinhas nunca e há pessoas que em determinadas fases estão tão insatisfeitas consigo mesmas e com a vida que levam, que acabam depositando todas as esperanças de uma vida melhor num amor distante, idealizado. E isso não vai acontecer. Simples assim.

E é aí que finalmente eu chego ao “amor acontece quando a gente menos espera”. Ele pode sim, claro, até chegar para pessoas que estão passando por momentos difíceis, carentes, mas há casos em que só quando uma pessoa está se sentindo completa, totalmente entretida em cuidar de si, que, de repente, ela se depara com um amor para lhe surpreender e lhe transbordar. Se a pessoa em questão já passou por amores rompidos e excesso de expectativas frustradas, tanto melhor. Ela vai saber que ninguém vai ficar com ela só porque ela precisa, como se lhe estivesse faltando uma metade, mas sim porque ela está inteira e disposta a continuar assim. Para que o outro inteiro esteja com ela também por inteiro. Ambos aceitando defeitos e qualidades um do outro, respeitando individualidades, aprendendo a ceder harmoniosamente e sempre com a consciência de um fato, por mais dolorido que seja: que se amanhã ou depois eles não estiverem mais juntos, ele vai sobreviver e ela também.

Agora só um detalhe para concluir meu pensamento. Se, por acaso, você que está lendo achou que esse tipo de amor que aqui citei é o melhor e mais perfeito de todos, muita calma nessa hora. Pra você, repito o que disse duas vezes nesse texto: É aí que mora o perigo. Não julgue nada do lado de fora. Apenas ame do jeito que dá, e, se não der, tudo bem. A vida não é só isso. Ela vai bem além.

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Antonio Carlos Gaio
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