OLHA O MARADONA AÍ,
GENTE!
28
de fevereiro de 2000
O torcedor é capaz de gritar “Ah, é Edmundo!!!” e xingar
Zagallo porque não deixou o Animal jogar a final contra
a França, no lugar do apaixonado e convulso Ronaldinho,
para dois anos depois fazer a seguinte cobrança: 250 mil
reais por mês, treina quando quer, alega lesão e à noite
fuça boates e bares, abandona o clube e se recusa a
jogar pelo time que ele disse ser do seu coração só por
causa de uma braçadeira de capitão, e ainda se considera
um escravo, com direitos de imagem a receber por
acreditar que o amor bandido reflete o caráter de nosso
povo. Aí já é escárnio, o torcedor explode igual ao
Edmundo e decreta: tem mais é que ser preso!
De que adianta filosofar se cadeia reforma, amolda a
personalidade de acordo com as conveniências ou sossega
o facho do pivete, se o árbitro paulista Alfredo
Loebling comemora efusivamente a sua boa atuação no jogo
Botafogo e Palmeiras, cerrando os punhos e balançando os
braços. Já que o brasileiro tem fixação em imitar moda,
Loebling escolheu o melhor modelo de arbitragem: a
inglesa. Mike Reed se tornou famoso após ser flagrado
levantando o braço direito e comemorando o gol do
Liverpool, ao ter aplicado corretamente a lei da
vantagem no lance. Seria o mesmo que o juiz responsável
pela libertação do casal assassino de Daniela Perez
exaltasse a correção e justeza de sua decisão.
É por isso que o patriota Galvão Bueno se esgoela,
temendo que esqueçamos a importância de ser brasileiro,
ao sublimar o Brasil através da bola que rola mansa e
assume uma trajetória curva que não nos permite
adivinhar o destino que ela nos reserva. Para não ter
que reconhecer que somos freqüentemente lesados na
intenção do voto, furtados na rua e roubados em casa,
vindos da farmácia, quando pingamos nos olhos o colírio
para otário.
Preferível desviar a atenção para as louras que se
fantasiam de verde e amarelo e pintam o sete nos
estádios, ao lado de homens cuja função é só sair na
fotografia. Oxigenadas ou não, falsas ou verdadeiras,
burras ou não, o certo é que atordoam nosso espírito
crítico. Lembram a nossa rainha, a Xuxa, e sua patética
reação no festival da Canção de Viña del Mar, diante da
alusão ao sexo oral na paródia do “Ilariê” gritada pelo
público chileno. Amargas lágrimas rolaram de sua face
sem entender porque certos setores moralistas da mídia
insistem em recordar seu passado de filmes pornográficos
e castigam sua nudez com a exibição de fotos que
enrubesceriam a terceira geração. Não sem outra razão
que Xuxa colocou a filha Sasha no colo e retornou ao
palco para calar a boca daquela platéia imunda, a
despeito da fama do povo chileno de ser o mais culto da
América Latrina. No reino encantado em que vive, a tudo
ignora, sua majestade.
O melhor é Edmundo esfriar a cabeça, tirar as medidas,
ir para a Passarela e puxar o samba-enredo do seu
Salgueiro querido, mudando o refrão: “Olha o Maradona
aí, gente!”. Ao lado de seu inseparável companheiro
Felipe, que nem bem começou e nos obriga a ficar de olho
na sua carreira.
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