QUAL O DESTINO DO SORRISO DE UMA CRIANÇA?
17 de abril de 2000
Os diagnósticos mudam ao sabor do tempo
e do vento, e Ronaldinho segue desmoralizando os médicos. Goleiro não tem
desculpa quando engole frango, é o responsável pelas derrotas. Atacante que
perde pênalti em final de campeonato é crucificado. E o que dizer de médicos e
fisioterapeutas que atribuem à fatalidade uma lesão tão grave, no mesmo lugar
operado pelo maior especialista do mundo em joelhos, sem que se medisse gastos e
cuidados personalizados? O que dizer deles?
“Com os avanços da medicina, qualquer
problema pode ser solucionado”, declara o médico da seleção, José Luiz Runco. O
especialista em medicina esportiva Osmar de Oliveira não acredita em
negligência, os médicos do Internazionale seguiram o manual à risca para curar
esse tipo de lesão, o tendão fora costurado e estava cicatrizado. Se depois
rompeu, a culpa não é nossa.
Foi jogando no PSV que os holandeses o
reinventaram em um cyborg, na tentativa de transformar o menino pobre do
subúrbio, de arrancadas espetaculares, em um homem bem-nutrido com corpo de
Primeiro Mundo. Resultado, a sobrecarga da atividade física durante o período de
crescimento causou uma tendinite que atende por um nome que dá medo: Síndrome de
Osgood e Schlatter. Como Ronaldinho se notabilizou pelos piques, o excesso de
esforço na região avariou o ligamento entre a rótula e o músculo do joelho. Deu
para entender? A cada partida, o tendão ia dando sinais de não suportar a massa
muscular adquirida. O tendão esgarçou-se até romper totalmente.
O fisioterapeuta Claudionor Delgado -
que cuidou de Ronaldinho na Copa de 98 - achou a volta precipitada, uma certa
irresponsabilidade. Ele ter se contundido sozinho demonstra que o joelho não
agüentou o peso do corpo. Seria melhor ter esperado um pouco mais. Com todo o
respeito, o Dr. Lídio Toledo discorda, pois não acredita em falhas na cirurgia
nem na recuperação fisioterápica, e acha que foi tempo até demais. Aliás, na
Copa de 98, Lídio Toledo não sabia se tratava do joelho direito ou esquerdo do
Fenômeno, porque ambos inchavam, ou se deixava o problema por conta dos
fisioterapeutas. Ou se receitava tranqüilizantes para relaxar Ronaldinho, que
não cansa de afirmar: “O que me dói mais não é o joelho, mas saber que eu
decepcionei tanta gente que estava esperando o meu retorno.”
O que não estava no script foi a
convulsão de Ronaldinho atacá-lo no malfadado dia da final contra a França. E no
meio disso tudo, Susana Werner. Não é de hoje que os joelhos de Ronaldinho
transformaram-se em uma novela que provoca comoção em duas de cada três mães
italianas, por ser um garoto dolce i buono.
E por que operar logo na França? Fomos
vice na França e por causa da França. Operar duas vezes é burrice ao quadrado.
Que ingenuidade não acreditar em bruxas! Foi lá a convulsão, não se deve dar
sopa para o azar. Será que não tinha um outro lugar nesse planeta? Um outro
médico que não o Gérard Saillant, que já botou no prego seu diploma se
Ronaldinho não voltar a jogar. É pura vocação para o masoquismo, ainda mais que
seu empresário - de sobrenome Pitta - afiançou que ele agora só voltará a jogar
bonzinho da silva, afinal, “ele já está rico”.
Com o dinheiro que Ronaldinho tem no
banco, jamais será retido na porta giratória, método moderno de detecção de
assaltantes na era do caixa automático. Não passará pelo dissabor do aposentado
carioca com prótese de platina e armado de apenas cem reais para pagar uma
conta. Depois de tirar todos os objetos de metal que carregava, o vigilante não
conseguiu enxergar a platina na perna e investiu-se da autoridade que lhe
concederam para barrar. A indignação leva você a tirar a roupa e despir a
fantasia da imponência austera do banco. Sem o saber, o guarda é até conivente e
o estimula a tirar a roupa porque, no fundo, quer ver o circo pegar fogo.
Como o Circo Vostok, em Jaboatão. Um
garoto de 6 anos, quando passeava com o pai, foi puxado pelo leão para dentro da
jaula, que lhe abocanhou o pescoço e o arrastou para banqueteá-lo junto com sua
esposa. A necropsia acusou que não foram achados resíduos de comida no estômago
dos animais. Famintos estavam, famintos ficaram e assim morreram, leões e o
sorriso da criança.
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