BANDEIRA NACIONAL VIROU GUARDANAPO
15 de maio de 2000
Os militares se negaram terminantemente
a participar de confrontos com o MST em ações de desocupação de órgãos públicos
e fazendas. Por temerem desgaste na imagem da corporação, associada no passado à
repressão de movimentos sociais e opositores do regime. Não se eximem de zelar
pela segurança do Estado, mas a serviço da sociedade, querem distância dos
tempos de aparato de opressão política. O Exército sabe qual é a diferença que
existe entre a bala de borracha e a de chumbo. Pedem, pelo amor de Deus, que
seja arquivado o IPM sobre o Riocentro, por motivos de constrangimento, apesar
de reconhecerem a importância histórica das investigações. Afinal de contas, a
maioria dos implicados já vestiu o pijama de madeira. Além de o moral da tropa
estar baixo, refletindo a perda de prestígio decorrente dos males da caserna
expostos em anos e anos de poder. As vítimas de uma vingança velada da
democracia que corrói soldos, armamentos e privilégios.
Positivamente, perderam a gana de Éder
Jofre, que recorda as dificuldades da época do Galo de Ouro para se manter no
peso. Diluir 1 kg precisa de doze horas sem comer, pular corda, vestido de saco
plástico e sob uma lâmpada acesa.
Se os militares pudessem, reverteriam
aos tempos do amadorismo para recuperar a alegria de um tempo perdido em que
assaltantes não seqüestravam sentinelas e invadiam arsenais. E imitar o exemplo
de Calais, time amador da quarta divisão que chegou à final da Copa França. O
equivalente ao Maranhão disputar a final da Copa Brasil. O que dá uma boa noção
de a quantas anda o futebol que derrotou a seleção de Ronaldinho, inclusive
porque desmoraliza o ditado “o que vem de baixo não me atinge”, inventado por
eles para que as coisas continuassem do jeito que sempre foram.
Como era bom o tempo em que eram felizes
e não sabiam! Para não ficarem chocados diante do recuo do deputado Luís Antônio
de Medeiros em favor do mínimo de R$177, ou US$100 para o ACM, fazendo com que
Roseana Sarney indexasse o salário em dólar no Maranhão. Alegou que não é louco
de pedir um reajuste que inviabilize o orçamento: “Meu amigo, o PFL é governo!”.
Duas semanas depois da Bandeira Nacional limpar a boca suja de sardinha do
deputado, em manifestação nos jardins do Congresso ao lado de 400 sindicalistas
e aposentados.
Não por outra razão ser compreensível os
destemperos da família Pitta. O pai desmoraliza o depoimento do filho porque é
testemunha suspeita e carece de boa fama - em bom português, usuário de
maconha. A mãe prefere que ele seja maconheiro do que corrupto. O filho se
lamuria de ser órfão de um pai vivo e, com a vida que leva, se não fumasse,
ficaria mais maluco.
Só recorrendo ao francês Christian Jacq,
autor de best-sellers ambientados no antigo Egito, para fazer a leitura dos
tempos modernos. Ele é capaz de decifrar hieróglifos com a mesma facilidade com
que um juiz assinala um pênalti no último minuto e derrota um time pequeno ou
amador - tal como ocorreu ao Calais, toujours la France. Os faraós e as
pirâmides guardam uma estreita relação com os homens públicos até os dias de
hoje. Um elo inquebrantável cujo símbolo está personificado nas múmias, signo de
vida e não da morte, evitando que a essência humana se disperse no vácuo. Pois
não é que descobriram traços de tabaco e cocaína nos tecidos de uma múmia?
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