CENAS EXPLÍCITAS DE PÃO-DURISMO
5 de junho de 2000
Houve um tempo no Brasil em que a classe
média tinha hábitos muito simples, era mais próxima do povo, passava-se de filho
para filho roupas, sapatos e livros. A globalização foi empurrando-a
devagarzinho para que entrasse no mercado e interrompesse esse círculo danoso.
Caso contrário, você continua no estado de pobreza a que está condenado.
Jornais e revistas passaram a ser
entregues na soleira da porta, facilitando o acesso à informação e o
enriquecimento do saber. Neurótico e insone, o vizinho se levanta mais cedo,
apanha o jornal e o lê todinho antes que você acorde, livrando-se do pesado ônus
da assinatura.
Abrir a mão para jogar peteca cansa.
Diretor de banco mineiro quis se refrescar bebendo do refrigerante que outro
diretor trouxe para evitar despesas supérfluas no bar. O cristão novo adorava
soda e abriu a garrafa. Na hora de dar uma golada, foi avisado que não era de
graça. Ato contínuo, tornou a tampar a garrafa com a mão espalmada,
desforrando-se no gelo que boiava no isopor, chupando-o com ódio, pouco se
importando com a inutilidade de uma soda sem gás. Mesmo porque quando garoto não
perdoava o iogurte do supermercado.
Filhos que almoçam e jantam a comida
gostosa da mãezona a pretexto de preservar a família. Avós que criam, cuidam e
vestem seus netinhos, que são uns amorzinhos, enquanto os filhos reclamam que
ganham pouco. Pais que aceitam o bom-filho retornar ao lar, depois de
amadurecido, por conta de uma crise invisível que assola o país, não reconhecida
no ato de votar. Empresários que se vestem com o mesmo terno de seus motoristas,
denotado pelo amarrotado da Casa José Silva.
Pra quê economizar? O que importa é
gastar, distinguir quem você é através do consumo, fazer a diferença para que
todos finalmente possam notar que apito você toca e a troco de quê você está
aqui nessa miserável existência. A banda dos ex-colloridos tocava essa sinfonia
em magnífica sintonia e afinação, ensinando-nos que a meta do paraíso material a
ser alcançada é Miami. Daí a escolha do local para exílio.
Mas eis que nova onda - que os surfistas
evitam - abalou a trupe, ainda não recuperada das torturas sofridas em torno da
História que vitimou PC Farias e seu clã, história que Agatha Christie não
engendraria nem o Inspetor Clouseau se animaria em investigar.
A ex-primeira-dama Rosane Collor foi
condenada a 11 anos por superfaturamento de leite em pó. O senador Luiz Estevão,
avalista da campanha de Collor, está na corda bamba porque o Ministério Público
descobriu seu envolvimento no desvio de R$ 169 milhões, em conluio com o Juiz
Nicolau.
A solução para essa crise de pão-durismo
versus esbanjamento de recursos está nas mãos de Zélia Cardoso de Mello,
condenada a 13 anos por ter se beneficiado do esquema PC. A czarina da economia
virou mãe e vive em função de seus filhos, do que é melhor para eles: “Em
princípio, todos os meus movimentos estão limitados pelas necessidades e
projetos dos meus filhos.”
Prudente e sábia atitude de quem
preferiu se recolher em Nova York, visto que ovos, tortas e varas perseguem
caras e cabeças de políticos que preferem honrar os juros de dívidas com bancos
estrangeiros e manter a moeda estável, em detrimento de nossa gente, minha
gente, brasileiras e brasileiros, de gente que faz, e se engalfinha numa onda de
violência crescente.
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