MATRONAS
12 de junho de 2000
Simone de Beauvoir, precursora do
feminismo e companheira de Jean-Paul Sartre, chamava seu amante, o escritor
americano Nelson Algreen, de “meu crocodilo” e “meu marido”, se auto-intitulando
“sua rãzinha”. Simone teve suas primeiras experiências sexuais com Sartre, na
idade provecta de 22 anos, que depois se converteram numa comunhão fraterna e
intelectual -o célebre casamento aberto. Monsieur Jean-Paul então se dedicou a
seduzir jovenzinhas enquanto Madame Simone viveu seu romance de folhetim, ao
longo de 18 anos, em que se viram uma meia dúzias de vezes. Recebendo-o de robe
de seda para que ele pudesse vê-la lavando pratos com elegância. Confessa em
cartas - aquela que defendeu a elevação da condição feminina e pregou a queda da
ditadura da fidelidade - que seria fiel a Algreen “como uma esposa exemplar e
convencional, unicamente porque não poderia ser de outro modo”, não poderia
suportar as mãos nem os lábios de um outro homem, não poderia dormir com mais
ninguém.
Os Estados Unidos igualaram os sexos, ao
misturar homens e mulheres nas Forças Armadas. Segundo a escritora Stephanie
Gutmann, filha de militar e criada em quartéis, a guerra faz parte da natureza
masculina e as mulheres nada têm a fazer num ambiente dominado pelos homens
desde que o mundo é mundo. Massa muscular da mulher 60% menor que a do homem,
lançar as granadas não vai tão longe, constituição óssea frágil, se machucam
mais, e a cistite tornou-se um estorvo, pois elas evitam urinar durante as
marchas - dispendioso reformar os submarinos para criar banheiros femininos. Ao
precisarem moderar o comportamento e abrandar o ritmo de treinamento para não
deixá-las em situação desconfortável, os marmanjos amoleceram. O Estado de
Israel põe o dedo na ferida ao não permitir que elas entrem em batalha, assim
não correm o risco de caírem prisioneiras e serem violentadas. A guerra é coisa
de macho?
“Verdade Nua” é um programa de
variedades que faz sucesso na TV russa, a ponto de os políticos entrarem na fila
para serem entrevistados. A apresentadora tira a roupa diante da câmera ao
narrar as notícias, jornalistas de topless em entrevistas externas, e a previsão
do tempo a cargo de uma strip-teaser. A atração é um microfone de tamanho acima
do normal preso entre os seios e o segredo do sucesso é combinar o tratamento
sério das matérias com as moças seminuas. Um deputado declarou que é estimulante
quebrar tabus pois Lenin escreveu que devemos usar todos os meios disponíveis
para avançar na luta.
Mulheres transgredindo, recuando, se
machucando, desafiando. E desafio é com a vovó portuguesa Iselinda, de 75 anos,
presa por tráfico de drogas ao embarcar para Portugal. Chocando a todos pela
arbitrariedade da polícia em manter a vovó presa por dois meses. Duvidar logo de
uma vovó portuguesa! No entanto, os grampos revelaram outra verdade: “eu enganei
todo mundo”. Tarde demais, goza da inocência em Portugal.
Daí ser compreensível certos homens
virarem matronas, predicado exclusivo do universo feminino, perdendo o brilho e
o vigor de inesquecível lembrança no passado, adquirindo uma fraqueza de
espírito. Baixando os braços de desânimo e se retirando da arena,
transformando-se num zero à esquerda.
O melhor a se fazer é não pensar e
seguir os ensinamentos do agora imortal Carlos Heitor Cony, ao descobrir o
estado de neutralidade ideológica absoluta, de invejar suíço: “não tenho
disciplina mental para ser de esquerda, nem firmeza monolítica para ser de
direita”.
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