100% POPOZUDA
11
de setembro de 2000
Ninguém mais se espanta se alteramos a data de
nascimento para nos transformarmos em gatos - ou melhor,
gatinhos. Todo mundo acha comum puxar um gato do poste
para poder ver TV em casa e diminuir a conta de luz -
sem temer o curto-circuito. Sonegar imposto é um risco
calculado, se cair na malha, paga-se ou recorre-se à
magnânima Justiça, cujo transcurso de demora alivia a
tensão do contribuinte. Daí ser normal anistiar as
multas de trânsito e adulterar placas, pior era comprar
carteira de motorista. Pois que engavete e avarie o
carro de quem está parado no sinal vermelho, fuja com os
faróis apagados, procure ser o “sombra” de algum
figurão. Colar no exame é recurso lícito se você não for
pego. Assina a lista de presença pra mim porque hoje eu
tenho de levar minha mãe ao médico. É bem mais barato
comprar na “Robauto”.
Tráfico de bacalhau no Galeão. Um vôo fretado,
procedente do Porto, aterrissou com forte cheiro de
bacalhau. 40 quilos para ser mais exato. Distribuídos
por 280 passageiros, que o repassariam para seres
estranhos que dariam um bom destino a essas secas e
salgadas criaturas, ao lado de presuntos e lingüiças de
porco trazidos por espanhóis e angolanos. Vírus que
causam epidemias e infecções: mas a comida é para
presentear parentes, assim como as flores amenizam as
dores dos enfermos nos quartos de hospitais, ó burocrata
insensibilidade. E por aí vai a sanidade que regula a
mente de turistas e visitantes.
Em função da tiborna instalada no país, nada mais chique
que se inicie um jantar molhando o pãozinho num azeite
de alecrim, enquanto um ladrão de calcinhas é flagrado
no pacato distrito de Nova Altamira, de 20 mil
habitantes, município de Faxinal, a 340 quilômetros de
Curitiba, com 3 peças no bolso e outras 153
cuidadosamente organizadas no armário. O lavrador
Wanderley varava noite a dentro atrás de peças íntimas
em varais e tanques da cidade. Apenas para dar um clima
nos sonho eróticos com as vizinhas, fixando a fantasia
na velha tanga, a preferida, e se enfurnando no costume
mais antigo do mundo. As vítimas lesadas não quiseram
fazer o reconhecimento das peças roubadas, optando pela
incineração do constrangimento e vergonha. Registre-se
que esse Wanderley nascera assim, não adulterara a
grafia do seu nome, estrangeirizando o v pelo w e o i
pelo y, como só e acontece em Luxemburgo.
A mais nova modalidade de roubo no Brasil revolve a
esposa de Wanderley, que repete Nicéa Pitta, Carola
Scarpa, Renata de Luxemburgo, e põe lenha na fogueira:
“Ele gostava de vestir calcinha, mas nunca imaginei que
a tara fosse tão séria”.
Sua filha de 4 anos já testemunha a expansão do paraíso
das calcinhas, onde o vermelho e a renda empurram a
bunda, ao requebro das ondas, a nortear o rumo de nosso
desejo, fácil, voraz, exibido, e que sempre entrega o
ouro ao bandido, porque gostamos além da conta, à cata
da satisfação farta, que esvazia o cérebro. A era da
100% popozuda, letreiro gravado nas bundas de calças que
afiançam a qualidade do produto, desfaz o amor ferido e
levanta o orgulho de quem descobriu que a vida passa
rápido, quando vai se ver, não se fez nem metade do que
lhe caberia.
A era da 100% popozuda imprensa o eleitor entre a cruz e
a caldeirinha, plasmado entre o mendigo urinando em
frente à portaria de seu prédio e a propaganda eleitoral
que tira o coelho da cartola: terceirizar o recolhimento
dos mendigos, fixado um preço razoável pela captura, a
saudável concorrência seria disputada a tapa. |