ERA
HITLER GAY?
05 de Novembro de 2001
Enquanto as bolsas de aposta fervilham em torno
do dia que Osama irá para o Paraíso atingido por um balaço de Bush, num
duelo ao pôr-do-sol do Texas, a primeira imagem que vem à lembrança é a de
Hitler.
Depois de olhar para os lados e se assegurar de que não há
nenhuma quinta-coluna à espreita para maquinar alguma represália,
examinando pé ante pé se o seu fantasma ainda está por perto, cabe
introduzir a dúvida se o desviado Hitler desencaminhou e não pôde
satisfazer o seu maior sonho. A exemplo dos árabes que se aproveitaram
da passividade de Lawrence da Arábia e quebraram seu galho, com o perdão
da má palavra - todo cuidado é pouco, o antraz também ataca pelas
costas.
A quem serve fofocar sobre a vida sexual de grandes figuras
históricas e celebridades, tirando dos armários detalhes até então
abafados que enriquecerão sua historiografia? Desperta a curiosidade
percorrer essas galerias extensas e encontrar Alexandre, o Grande,
Ricardo Coração de Leão, Errol Flynn, Eleanor Roosevelt, Rock Hudson,
Joseph McCarthy e Santos Dumont. Fingir que não é com você significa
esconder a homossexualidade atormentada e não resolvida que se aplica
inclusive ao político mais facínora que já sapateou sobre as nossas
cabeças. Não que isso relativize sua culpa, mas ajuda a separar o joio
do trigo de vida privada da política, de lançar terra por sobre esse
fosso que separa o imaginário da sexualidade do lugar-comum da práxis
sexual da sociedade.
Ajuda a compreender as idiossincrasias da época em que
pontificaram. Interessa saber se os que conduziram os nossos destinos
têm registro de mulher nas suas vidas, qual o seu nome de guerra, suas
motivações para ter escolhido semelhante opção e se a ejaculação precoce
cortava o barato. Cada família tem a gaiola das loucas que merece.
Interessa saber se na base da política nazista e da SS havia uma
homossexualidade enrustida, se não era corrupção de menor ditador
brasileiro dar voltinha de moto com a ninfeta do peito, se por trás dos
fanáticos políticos e religiosos a repressão da sexualidade não é o
cajado com que castigam nossas consciências.
Se Napoleão era gay ao enfiar a mão por dentro da farda
acariciando a úlcera ou se Hitler nunca me enganou com seus trejeitos de
bufão e farsante, à vontade nas fotos entre ginastas másculos ou
impecáveis fardados que torturam, evitando pudicas campônias e suas
tortas de maçã, ou ainda, se Eva Bräun era fachada para o ex-estafeta,
se o pintor medíocre era garoto de programa para se auto-sustentar, se o
anti-semitismo nasceu nos rábicos rabinos que condenavam a venda do
corpo, eis que seu lado mais vulnerável se revela, pois difícil de
apagar seu bigode inesquecível, fazendo coro com o chicotinho que posava
nas mãos, imortalizando a simbologia sadomasoquista.
Daí ser completamente normal, segundo os padrões vigentes na
época, a psicose em apagar todos os vestígios que expunham sua
intimidade, uma tremenda bandeira de que pretendeu sublimar as
preferências sexuais, que certamente mapeariam os passos fundamentais de
sua carreira e as relações promíscuas com o poder. Por conta dessa mesma
mentalidade, Kennedy deitou e rolou passando incólume na História,
enquanto Clinton comeu o pão que o diabo amassou, desmascarando a
falácia do politicamente correto - os bons costumes inibem o prazer.
Na medida em que a política absorveu e sugou cada vez mais a
energia de Hitler, ele passou a se alimentar de outros nutrientes,
aditivos e prolegômenos, antes de dar início à sua tão sonhada
obra-prima de construir uma nova ordem do capitalismo financeiro
militarizada que excluiria os judeus, restringindo o sexo às viagens de
trem, salões ovais e banheiros apertados, não havendo necessidade sequer
de apelar para o que mais fascina os homens até hoje: bordéis e michês.
Sexo, para quê? Bastava o afeto entre amigos no seio de grêmios
recreativos que forjavam heróis e líderes carismáticos, prenhes de
ideologia na medida certa da carga erótica, a pedra de toque do caráter
sexual da cultura fascista - os expurgos indiscriminados e periódicos de
degenerados que empurravam o regime para a orgia era outra fachada.
O que se pode esperar de um regime de caserna que fez apologia
ao amor e devoção pela disciplina ao calçar as botas e se colocar em
marcha exaltando ácidos e purgantes remédios para tonificar a raça pura?
Pau no lombo deles!