VERA LEILA FISCHER
DINIZ
10 de Dezembro de 2001
Vera Fischer é a Leila Diniz
dos tempos em que os aviões entram pelas janelas, carneirinhos começam a
reagir e o cordeiro de Deus não tem mais piedade de nós - racista, deu
branco no mundo.
Os Estados Unidos não mais serão os mesmos
depois que os árabes lhe deram limites, terão de ver o mundo de outra
forma, sua segurança exige. Assim como Vera Fischer, tem que ser
examinada devagar devagarinho, para o público esfregar os olhos e
acreditar que deseja ser como ela é, na ficção ou na realidade. Uma
mulher que não tem preço, mesmo um cego enxerga seu halo à distância,
sabe o que isso representa.
Leila Diniz ficou famosa por ser muito livre
e solta, nos libertou a nós homens e mulheres. Sem preconceito. Não
aceitá-la seria vulgarizar um caminho univérsico que ela desbastou para
as mulheres largarem de ser Carolina à toa na vida vendo a banda passar.
Fräulein Fischer é a nova Leila Diniz.
Primeiro que é loura, e não é burra. Segundo, porque foi Miss Brasil e
nunca fez modelão. Terceiro, porque não é politicamente correta,
portanto, chata. No quarto, porque é uma gostosa explícita, enquanto a
Leila tinha o recato ideológico próprio da década de 60.
Sua barriga escancaradamente de fora
“agredindo-nos com sua gravidez” criou um estilo nas caretas de hoje. No
entanto, não desvirtuava a maternidade, o ato sagrado em ser mãe, uma
condição natural e antiga que desperta uma tendência a que todos estamos
coagidos, em protegê-la, afinal Mãe é aquela que sempre salva e nos
redime, a única que tem o poder de perpetuar a reprodução da espécie, a
mãe santa.
Tinha esse poder - clona-se a exclusividade.
Verinha, não, nunca foi santa, mas jamais entraria na buraqueira que
levou Marilyn Monroe a confundir Kennedy, Arthur Miller e o filme que
estrelou “Nunca fui santa”, a loura vazia que seduz o vizinho chefe de
família careta que deixou esposa e filhos longe, no último verão.
Vera, não, nunca deixou de ser mãe. Nunca
abriu mão de ser mãe. Mesmo quando perdeu a guarda de seu arcanjo
Gabriel.
Nunca teve medo de viver qualquer papel na telinha - roxo é a cor da
paixão para encarar e satisfazer o público - colando a imagem que
veiculam de sua vida real nas novelas, ofendendo, agredindo e insultando
o limite entre a ficção e a realidade. Com inigualável talento, parece
vinho, o tempo passa e fica cada vez melhor. Muito bem paga por fazer
isso, muito mais para não deixar de fazer.
Cazuza e ela fazem parte do mesmo circo que
Charles Chaplin denunciou no longínquo século XX, ao inventar a sétima
arte no cinema, e acabou “deportado” para a Suíça pelo FBI em razão de
seus tempos modernos, para ser torturado pela vizinhança de
Hitler em razão de seu grande ditador. São kamikazes que não
falecem na nossa memória.
Persiste nelas um porém que as identifica. E fascina os homens. Elas
conseguem ser mais livres que os ditos-cujos ao não distinguir ficção da
realidade, o que os obriga a rotularem-nas de messalinas. São mulheres,
é o que faz a diferença, não são árabes, judeus ou americanos, são
mulheres que querem sentir o amor de forma exclusiva e original que os
homens compreendam, preservado de suas imposições e prescindindo dos
preservativos que nos obrigam a comer bala sem tirar o papel, aptos a
desarmar o gatilho da desconfiança que os mantêm manietados, à
distância, com medo da loba que irá devorar essa raça de carneiros
pretos em que eles se transformaram.
Elas cantam em hino: “Ai, que delícia, sorver a vontade de
alguém que nos quer de verdade, poder acreditar nessa de seremos
felizes, tanto que acreditamos no amor, no amor que torna o beijo
complacente, como o hímen, aberto ao primeiro que deflorar sua
sensibilidade tal como ela deseja”.