INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
14 de Setembro de 2001
Somente agora o século XXI
deu o ar de sua graça, a despeito de previsões apocalípticas equivocadas.
Foi quando os aviões seqüestrados entraram pelas janelas adentro das torres
gêmeas de Nova York e mergulharam no cérebro do Pentágono. Agora sim,
estamos seguros e convictos de que ao sairmos de casa não é garantido o
regresso ao lar. Era a senha que nos faltava para o novo milênio.
Que século nada, estamos, finalmente,
aprendendo a lidar com a noção do tempo e a dar menos importância à
matéria que valora e escalona os destemperos de nossa vida. Banalizaram
a morte com os atentados, se é tão fácil desaparecer, num abrir e fechar
de olhos, para quê o grilo? Há que aproveitar o que nos foi dado de mãos
beijadas e nos desvincularmos de paranóias e tramas conspiratórias.
É o momento ideal para fazermos contatos
imediatos de 3º grau e encontrarmos alívio nas orientações emanadas que
virão de outras entidades, santos, marcianos ou espíritos. Mesmo porque
os terrenos não estão inspirando mais confiança, animando-nos a quebrar
barreiras, crenças e o horizonte, vencendo o círculo de fogo da
exploração que gera retaliação, de que o mundo é competitivo mesmo, o
forte só existe porque tem fraco para ser oprimido, o QI mais elevado é
a meta para formar uma sociedade de homens extremamente inteligentes e
assim produzir eficiência com tudo funcionando nos trinques, chegando ao
sucesso, a preferência nacional. Sem se aperceberem de que não se
controla ou manipula a lógica da vida, tente e vai ver o que é bom para
tosse. Ela se vinga e se retira a hora que bem entende para que caiamos
no desgoverno e no vazio.
Os Estados Unidos reiteravam na administração Bush que não se tornaram
isolacionistas nem haviam se retirado para dentro de suas fronteiras. Ao
renegar tratados internacionais que condenam o racismo e a orientação
sexual para crianças em razão da crescente pedofilia. Ao boicotar o
Tribunal Internacional de Haia se americanos forem indiciados. Ao
defender seus interesses econômicos intervindo em culturas a qualquer
custo, promovendo embargos comerciais, protecionismo exagerado e um
aquecimento global no planeta degradando o meio-ambiente. Apenas com o
olho voltado para não ver sua economia prejudicada.
São vistos como a origem da força de Israel,
mas é a primeira vez que são atingidos na própria pele, na carne, no
osso, nas vísceras. Os serviços de espionagem baixaram a guarda depois
que desmoronaram o Muro de Berlim. Os terroristas ludibriaram a
segurança dos aeroportos. Os militares falharam na proteção do espaço
aéreo sobre o Pentágono. Alá seja louvado ao cegar o olho grande dos
terroristas e espatifar o avião no solo: o alvo supremo seria tirar a
vida de mais um presidente norte-americano em pleno vôo ou na sua
residência de verão. Deus misericordioso os fez comerem mosca, e a Casa
Branca escapou por um triz. Teria sido o mesmo que destruir Disneyworld
na frente das crianças.
Bush tirou a sorte grande, mas nem por isso
sua fisionomia de acuado e perseguido se desfez diante do remanejamento
pelas bases militares de Flórida, Lousiana e Nebraska. Suas lágrimas
revelam que, sob seu comando, os Estados Unidos não mais serão os
mesmos, cessa a invulnerabilidade quando a querida Manhattan de Woody
Allen está isolada do resto de Nova York e do país. O showbiz acusou o
golpe e cancelou shows, cinema e teatro, interrompendo o entretenimento
e a risada fácil.
Sunitas, xiitas e talibãs cresceram em
progressão geométrica durante a Guerra Fria, mas o Islã ficou com a cara
dos fundamentalistas, um inimigo muito mais difícil de ser batido que os
comunistas, pois o máximo que o Krelim chegou foi na Baía dos Porcos e
no Vietnã. Se formou uma corrente antiamericana ideologicamente islâmica
em que o suicídio em nome de uma boa causa os coloca no paraíso, não
havendo culpa a redimir, embora o Alcorão não preveja a matança de
inocentes. “Mas nem crianças hoje em dia são mais inocentes, vejam as
nossas em que meio são criadas”, observa Osama bin Laden.
A infâmia de Pearl Habor foi desagravada com
as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, cuja tecnologia seguiu a
tendência individualizante do capitalismo americano e virou micro,
acessível a todos os consumidores, ao alcance de pequenos inimigos,
alimentados por sentimentos anti que vão da religião ao sistema de vida,
se convertendo numa represália gigantesca.
Procura-se construir o rosto do inimigo para
identificar a geografia a que pertence e desencadear a retaliação, para
retalhar em mil pedaços o demônio que soterrou milhares de vítimas,
ainda vivas, lançando pedidos de socorro pelos celulares. A América
cuida de detonar uma desforra além da imaginação de seus filmes e da
manhã de 11 de setembro de 2001 que virou lenda. O nível de exigência de
vingança é epidêmico, urge reparar a paranóia instilada em cada cidadão
que cruzar com outro na rua: é suspeito.
O que está em jogo é a auto-estima. The
big stick está sendo posto à prova, seu QI, nível de organização e
pujança, contra inimigos que ainda não fizeram uso de contaminar
reservatórios de água. Superar o gênio da lâmpada que os deixou em maus
lençóis na arapuca, como um rato que ruge. O que está em jogo é a
hegemonia.
Mas, o que ainda não foi testado é a sua
inteligência emocional, da qual todos nós dependemos para continuarmos a
sobreviver.