UMA QUESTÃO DE FÉ
05 de Agosto de 2002
O filósofo Márcio Tavares D’Amaral
desafiou para um duelo os experts pensadores do meio acadêmico e fez
Deus ressuscitar em contraposição à adoração da filosofia, desde o
século XIX, à imagem e semelhança do pensamento de Friedrich Nietzche,
restando à pós-modernidade apenas a tarefa de sepultar Deus. Anuncia em
alto e bom som, ao melhor estilo da abertura de uma ópera, para o
pensamento além do que os olhos podem enxergar nesse mundo tecnologizado
e acelerado de hoje. É através do horizonte azul que ele deposita sua fé
na Religião, apoiado na máxima de que “todo sistema de pensamento é, na
verdade, baseado em um conjunto de verdades, no qual se crê” - a um
passo da sedutora convicção - “e a religião é o sistema em que é a
própria verdade”.
Ao navegarmos em meio ao campus
universitário, nos encontramos numa concha dominada pelo cientificismo,
pelas ciências exatas, biológicas e da computação, cujo eco realça o
lugar-comum de que a Religião nada mais é que uma chuva de dogmas
irracionais aos quais não se vende fiado. Ora, se a Filosofia e a
História mal conseguem dar conta do que se está desenrolando no presente
momento, significando um processo falimentar nos fundamentos, na
valoração moral, e, portanto, na verdade, sem mais conseguir explicar as
causas, como não pensar e se espantar diante de evidências de que cada
vez mais conseqüências são geradas em resposta à preocupação letal
concernente à tecnologia e ao estímulo da informação, invalidando a
passos largos o pai e mãe natural que adotamos no breve corte do cordão
umbilical.
O mecanismo do pensamento é acionado a
partir de um sapateado de crenças de valores como que a exigir que “não
quero discussão”. Nem disfarça, toma partido xiita desses valores, uma
adesão incondicional que não convém ser questionada. Em assim sendo, por
que não a religião, se a fé é um crédito a perder de vista sem a
exigência da reciprocidade natural a um casamento?
A natureza da adesão de todo o sistema de
pensamento, no ardor do entusiasmo, transcende a uma confiança absoluta,
sem par, por ser real em si mesma, e determina a sua própria imersão num
rosário de idéias com as quais você se identifica, e até relaxa,
aquecido pela certeza da iluminação que alarga o saber. O que é isso
senão Religião?
E o que é a Ciência senão um conjunto de
injunções e equações para demonstrar o que os cientistas consideram como
verdade? Desde o Iluminismo, elegeram como seu inimigo as religiões,
associadas desde os primórdios a aristocracias bastardas, governos
corruptos e ideologias escravagistas. De um tempo em que o poder
sacerdotal e o poder do império haviam se comprometido em um casamento
indissolúvel. Que fez miséria. Ao banirem conclusões não demonstradas,
sobretudo a respeito de moral e ética, optaram pelo conhecimento
adquirido somente pela razão, o culto ao agnóstico.
D’Amaral não se preocupa em lhe atribuírem
casuísmo ou adoção a uma causa própria, se peculiar os dramas de uma
pequena aldeia, quando universalizados em filme ou livro, nos tornamos
parentes de sua história.
Vivemos em uma época que ainda se recusa a
pensar em termos holísticos, em que a sua porção encerre um todo que o
dignifica, aumente sua auto-estima e eleve sua crença, dessa forma,
juntaríamos as partes com o significado ampliado e atingiríamos uma
totalidade completamente distinta da globalização, que implica em
hegemonia e pasteurização. Posto assim, seremos capazes de reencontrar
totalidades que recuperem e restabeleçam o nosso lugar de origem,
palavras de D’Amaral.
A intolerância dos agnósticos faz com que
não consigam discutir racionalmente com os crentes de espírito, por
exigirem provas materiais de que os milagres existem, apenas vêem a
barbárie perpetrada no ceticismo disseminado. Deixam claro uma crença
dogmaticamente oposta de que Deus não existe, inimaginável alguém
realizar essa proeza lógica ou ilógica do Universo.
Mas, se demonstrar a existência de
qualquer fenômeno, insignificante que seja, já é deveras complexo,
imagine demonstrar a inexistência de algo totalmente impossível.
É impossível, e em assim sendo, um princípio dogmático
absoluto que faz do agnosticismo um artigo de fé.