TERRA PROMETIDA
06 de Maio de 2002
O povo de Israel fugiu à perseguição do faraó
Ramsés II, atravessou o Mar Vermelho e montou na Palestina o berço da
religião judaica. A Palestina dos filisteus foi dominada pelo pastor
David que virou rei com uma funda ao derrubar Golias, fazendo prevalecer
o quanto mais alto, maior o tombo. Apenas porque não queriam entender
que ali era a Terra da Promissão, destinada ao povo eleito, o ouro negro
viria dourar o vermelho de dívidas e trazer o verde para o deserto.
Maomé não deixou essa conta ficar barata para judeus e cristãos,
converteu os palestinos e se a terra é santa, a eles pertence, por
usucapião. Os cruzados invadiram o pedaço, mas o sultão Saladino levou a
melhor, raios, e Jerusalém? De quem é Jerusalém? Dos turcos, pros idos
de Colombo, quando a Terra ainda não era redonda, o que facilitou às
comunidades no convívio sem traumas. Perseguição se havia era aos judeus
na Europa, se alastrando pelas colônias, uma epidemia que gerou guetos e
cristãos-novos, semente de um movimento sionista que iniciou uma
convocação de judeus espalhados pelo mundo a voltar para a terra que
Deus lhes destinara - em consignação a Moisés, com recibo passado em
duas vias, na Tora e no Velho Testamento. Promessa é dívida, sob o
beneplácito da Inglaterra, o Estado de Israel vingou e a Palestina que
se dane!
Nessa versão compacta do homo sapiens, faltou encaixar o
nascimento, a morte e a ressurreição de Cristo. E o Holocausto.
É de pasmar que o líder de um povo cujo mote é a perseguição,
seja capaz de usar com os palestinos o mesmo rolo compressor que
humilhou os judeus. É bem verdade que depois dos 50, a memória não é
mais a mesma, os neurônios começam a traí-lo, mas não dá para esquecer o
número de série gravado em seus braços. Temos inúmeros motivos para
sermos bárbaros e matar, e para não sermos mais merecedores de nossa
natureza humana. Perde-se a dignidade nos estertores de massacres que
desfigurem pátria e religião, abre-se uma ferida difícil de cicatrizar.
Observável nos 11 anos de Maissa, que vive como refugiada na
faixa de Gaza com um sorriso no rosto a despeito da miséria. Fecha o
tempo se falarem de tropas israelenses e do câmbio a 20 mil dólares pelo
sacrifício do homem-bomba. São seus ídolos porque fazem sentir na carne
a mesma dor que Sharon provoca quando mata sua gente. Não hesitaria em
ser mulher-bomba já que os soldados querem acabar com a sua raça.
Filhos, a única arma nas mãos dos palestinos, seu pai se orgulha dela,
tem mais 8 na lista. Foi-se o tempo que candidatos a atentados suicidas
tinham o perfil de fanáticos religiosos.
Árabes e judeus sempre passaram longe do laboratório de
experiências políticas, ao contrário da França, berço de uma cultura
emblemática onde precocidade e radicalismo cunharam a Comuna de Paris em
1871, que inspirou Mao Tsé-tung, passando pela Revolução Francesa
seguida de um Napoleão. Fez guerra três vezes contra os alemães, obteve
a cura da raiva e desestruturou os costumes a que o ser humano está mais
habituado, o se vestir. Assistiu a ocupação de Paris pelos nazistas e
levantou barricadas em maio de 68 para destripar o capitalismo em favor
de Cuba, Vietnã e a China de Mao.
Tenho
vergonha de ser francês, choram ao catapultarem Le Pen, temendo
necessitar uma terapia de regressão que os porá diante dos espelhos
do Palácio de Versailles, com os Luíses rindo a valer às suas
costas. Uma nova geração não se sentiu representada pelas forças
tradicionais e se desinteressou por política ao se abster, descrente
de quem dê jeito em segurança e desemprego. E resultado de eleições
é igual a decisão da justiça, cumpra-se e sofra a dor da
desmoralização para poder renovar, ou desaparecer.
Para
evitar esse mal-estar de franceses, judeus e islâmicos, não há como
pular o capítulo dos políticos em campanha eleitoral no Brasil. O
ideal é exigir que todo cidadão que ambicione um mandato, autorize
quebrar o sigilo bancário, fiscal, telefônico, e-mail, o acesso às
contas no exterior e nos paraísos fiscais, faltando escolher até que
grau de parentesco a devassa se estenderia, em função da nossa fé
pelo nepotismo. Isso no que diz respeito ao candidato à corrupção
passiva. Quanto ao corruptor ativo, os que financiam campanhas com o
caixa 2, o olho do reality show para flagrar contratos de gaveta
como garantia de compromisso.
Sobrariam os ricos apolíticos, onde tudo é relativo até o momento em
que seus interesses não estão em jogo. Faz uma coisa, é melhor
investigar a todos, não discriminar de onde vem a riqueza, se da
sesmaria à capitania todo latifúndio é grilado, se dos juros o banco
engorda e arranca-lhe os olhos da cara, para ser livre iniciativa
explora-se, o petróleo é nosso e o Bill Gates é um pirata que deu
certo.
Pensando bem, não adianta querer ser mais realista que o rei, um
traço lusitano na nossa paranóia de controle, ferindo o direito mais
comezinho relativo à privacidade. É que nos deixa sobressaltados a
dança das cadeiras entre os políticos, segundo as conveniências de
procurar espaço para exercer seus direitos de expressar suas idéias.
Só pode ser de propósito para confundir o eleitor, se já se foi a
vez da mulher que veio do Maranhão para ajeitar os negócios do
Brasil, ou se do nada surgiu Collor para extirpar o câncer dos
marajás.
Seria
o caso de imitar o exemplo do digníssimo deputado baiano Eujácio
Simões, que se deleita com sites pornográficos no cybercafé da
Câmara, para fugir a debates masturbatórios que em nada acrescentam
às voltas que o mundo dá. Por que tanto medo em investigar o que há
por trás da maldição da força da gravidade que nos retém aqui? Pois
asseste bem a lupa no globo terrestre e verifique se a Terra
Prometida continua ainda entre nós.