O MEDO
DE AMAR DEMAIS
7 de Janeiro de 2002
Alcoólicos anônimos, drogados, compulsivos
sexuais, depressivos, obesos, chocólatras, antitabagistas, já nos
perdemos de quem está a favor ou contra. O rebanho ganhou um novo
reforço com as Mulheres que Amam Demais Anônimas - Mada.
Apenas mulheres são bem-vindas numa das igrejas da paróquia
para assumirem a dependência de relacionamentos amorosos e que precisam
de socorro. Tarefeiras que são, se esfalfam em agradar seus companheiros
fazendo loucuras por conta, desde um simples gesto piegas e careta até
um rasgo dramático mexicanóide para mexer com a cabeça desse imbecil que
não dá bola pra nada e pra ninguém.
A Bíblia para as mulheres que amam demais foi escrita pela
terapeuta conjugal americana Robin Norwood, que descobriu a galinha dos
ovos de ouro quando sacou o que faz a mulher continuar desejando e
esperando por esses vagarosos, egocêntricos e perdidos no espaço.
Dizer que grande parte provém de família desajustada e
controladora, com tendências a reproduzir o modelo, é chover no molhado.
No entanto, não conseguir escolher homens gentis e agradáveis para
namorar ou casar com medo de serem abandonadas, se submetendo a um
menosprezo sublinhado na última palavra que você nunca dá, aí é sério
porque reproduz o perfil de suas ancestrais ainda gravado no
inconsciente coletivo e no DNA, para que não esqueçam nunca quem é o seu
feitor. Maldizendo, é a versão psicanalisada da Amélia. Homo Erectus.
Abrir mão de sua vida para fazer tudo em função dos desejos
dele, tangida pelo desespero de não querer pensar que um dia poderá
perdê-lo, é atração fatal onde fervilham obsessão, raiva, ressentimento,
culpa e inquietação que propiciam um terreno fértil para desejar morrer
inúmeras vezes, tantas quantos forem os homens errados que se aproximem,
que nada têm a ver com você.
Foi o caso de Dinah, amante de um homem casado por 15 anos, até
ele sofrer um derrame em sua cama e ela perdê-lo para sua esposa que a
mandou sumir, agora quem iria cuidar daquele ser vegetativo seria a
mulher oficial. E Dinah nunca mais o viu, sustaram e truncaram sua vida
afetiva.
Foi o caso de Elaine, que casou-se com um seboso grávido de um
rei na barriga, que nem inteligente era muito menos bonito, uma lingüiça
que nem capacidade teve para lhe dar o filho que sempre desejou.
Sacrificou-se profissionalmente no frigir dos ovos conjugais, além de
cuidar do sogro babão, um thriller do filho que gerou, filho esse que
teria a ousadia e empáfia de tomar a iniciativa de se separar dela
porque encontrou, finalmente, sua cara-metade.
Consolem-se com o beatle George Harrison, que não sorveu bem os
ensinamentos do guru Maharishi sobre reencarnação, na célebre incursão
que fez à Índia e às profundezas da vida, refletindo a queda na
qualidade do LSD e pegando uma carona no Ziraldo que afamou o lema
"Droga é uma merda".
"A vida é uma merda, não adianta ser multimilionário e ter tudo
o que imagina, ainda sim você vai morrer, passar por milhões de outras
vidas e nem sequer sacar o propósito". Lé com lé, cré com cré. Cré com
cré, lé com lé.