GUERRA À VISTA
07 de Outubro de 2002
Os Estados Unidos criaram uma nova modalidade de guerra, amparados na
legislação trabalhista brasileira: a guerra com justa causa. Expulsar
Saddam Hussein do trono para evitar que seu governo utilize armas de
destruição maciça ou as transfira a grupos terroristas, a justificativa
de fachada para Bush deflagrar guerra contra o Iraque. Por trás dos
panos, o acesso irrestrito ao cru do petróleo e abrir a exploração de
novos poços às nações amigas.
É bem verdade que Saddam Hussein já
esgotou a paciência de qualquer cristão, quando tenta imitar Stalin -
com quem parece - ao dar sumiço nos suspeitos de atividades políticas e
xiitas, não poupando nem seus parentes, sejam mulheres ou crianças, sem
contar prisioneiras violentadas, línguas arrancadas e execuções sem
julgamento. A Iugoslávia é aqui, no Iraque, Bush é o nosso dragão da
moral diante desses olhos que a terra há de comer.
Não há dúvidas de que o Iraque possui um
arsenal de armas químicas e biológicas - nucleares, a próxima atração -,
porém de quantidade e qualidade que deixam a desejar, mas que na mão de
Osamas, Malucos Elias e Beira-Mares torna-se um Deus nos acuda. Falta
apenas comprovar com material fidedigno que o paiol de pólvora se
localiza embaixo do trono onde Saddam se alivia. A única certeza para
valer é a de que as reservas petrolíferas do país alcançam 112 bilhões
de barris, volume menor que o da Arábia Saudita, o maior produtor
mundial. Fator que intranqüiliza ainda mais, pois o Risco Islã supera de
muito o Risco Brasil com Lula presidente.
O Departamento de Estado americano criou
uma força-tarefa chamada Grupo Futuro do Iraque para desenvolver planos
em que aquele país, sob um novo regime - com eleições livres? -,
aumentaria significativamente a produção de petróleo, se controlado por
corporações americanas. Seria criado um consórcio com o CNI, o maior e
mais influente grupo dissidente iraquiano. O mercado mundial sofreria
alterações sensíveis se o Iraque pudesse ter um papel independente no
setor, livre do cartel de quotas da OPEP, ampliando seu poder de
barganha, principalmente em relação aos Estados Unidos, que importam 60%
do petróleo que consomem. Seria o peso-pesado do grupo, se levado em
consideração que a Arábia Saudita perderia sua posição dominante.
No papel, perfeito. Falta apenas combinar
com a comunidade muçulmana. Ou então, não fazer amor e fazer a guerra, e
ganhar.
Vocês já pensaram se um dia a comunidade científica puser a cabeça para
funcionar, realmente, e descobrir um outro combustível mais barato,
menos poluidor e encontrável na natureza, de graça? As companhias de
petróleo acabariam, bem como o caminhão de negócios que rebocam,
pulverizariam o patrocínio de campanhas presidenciais, o mercado
publicitário sofreria um baque, o Rio de Janeiro mergulharia no piscinão
da miséria sem os royalties, os petroleiros iriam pra casa mais cedo ou
não decolariam dos portos, o cinema perderia os negativos do celulóide e
o mundo deixaria de girar sobre as rodas, libertando-se de um
condicionamento que o faria criar asas e voar, voar para bem longe, para
onde papai Noel se esconde.
E se a solução da fonte de energia que irá
substituir o petróleo estiver no coração do Amazonas? Os Estados Unidos
constituiriam um consórcio para nos explorar, declarariam guerra ou
ocupariam pura e simplesmente? Sim, porque os brasileiros não são
belicosos, traficantes, seqüestradores, homicidas, arrombadores,
assaltantes, punguistas, pivetes à parte. Certamente, sentaríamos à mesa
de negociações em Washington e ajustaríamos um acordo em que o Brasil
deixaria de ser a Índia da Belíndia para se converter no Estado mais
crente do Primeiro Mundo.
A única exigência dos gringos seria que
largássemos de mão essa coisa de corrupto. Nós exclamaríamos de
indignação, qual uma vestal insultada, e em voz mansa de mineiro que
quer ser carioca, mandaria na lata:
- Não esculacha, meu chefe. Nós somos da
paz, não gostamos da política gritada, falando manso se ouve mais,
apreciamos sentar para negociar, no fast-food não se decide nada. Manda
lá seu recado, o pulmão é nosso, vocês precisam dele para respirar, quem
mandou deixar o planeta ter esquentado tanto para manter o nível de
emprego e riqueza lá no Texas de vocês? Acho bom virem de mansinho e
aprenderem como se vive aqui. O último que pirou na Amazônia foi um tal
de Fitzcarraldo. Toda vez que se fala de altos negócios, lá vem a tal da
corrupção, alguém tem que oferecer mais para levar a parada, cabe ao
outro barganhar para tirar vantagem, puxa dali, puxa daqui, olha “nóis”,
o Brasil, a Terra Prometida, com os brônquios em dia, o único que cheira
mais limpo, lava melhor e dança conforme a música! Venha, venha comigo,
venha e aproveite o sabor das frutas que tingirão sua boca de cores que
não esquecerá! De viva voz, eu lhe prometo, não te arrependerás,
apresse-se, as eleições serão amanhã, senão não chegarás a tempo.