QUARTA IDADE
18 de Março de 2002
Em virtude da expectativa de vida ter dobrado
nos últimos 20 anos, a terceira idade não é mais senil, provecta e
esclerosada, há que se criar um novo patamar em que a terceira cede à
quarta a primazia de puxar o bloco dos idosos. Mesmo porque, no período
quaternário, os vulcões se extinguem e não mais entram em erupção.
Cinqüentão já está ultrapassado, o budismo cataloga como
terceira juventude a terceira idade, o que dizer do sessentão? Milton Nascimento
nada tem a declarar, imerso por esses meses na TPS - tensão pré-sessenta -,
prefere os discos voadores. O ufólogo decidiu por iniciar a compor depois de ter
assistido “Jules et Jim”, o filme de Truffaut. Anos depois quase desmaiou no
cinema em “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”, Truffaut era o cientista que
fez o primeiro contato com os extraterrestres.
Juntamente com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paulinho da Viola
e Jorge Benjor, os tremendões do MPB nasceram depois do verão de 42 e realizaram
o sonho de infância: fazer música e viver dos shows. Graças a vitalidade de sua
poesia que arejou a tradição ao sair do abrigo e enfrentar o bombardeio
estrangeiro, não divisam no horizonte a chegada da velhice. O melhor antídoto é
aceitar a mudança dos tempos e integrar-se nela, sem apelar para a sessão
nostalgia em que Nelson Rodrigues dissecava os bons tempos como se lavasse roupa
suja na sala de visita.
O melhor a se fazer é limpar seu nome de porcarias, barafundas
e falta de clareza em mensagens mal elaboradas ao longo do percurso, porque
embaçou o mundo através de sua visão míope e ofuscou a visão que o mundo
fantasia e se alimenta da gente.
No instante em que se coloca o pé na estrada no afã de alcançar
mundos e fundos, fantasias se intrometem nos sonhos e deturpam o lirismo do
onírico, atraindo-nos para a utopia dos projetos irrealizáveis, cuja ironia do
destino é nos ensinar que devemos amadurecer, senão feio será o tombo.
Caetano pontua a irresponsabilidade que namorou a utopia dos
anos 60, com a preocupação em ser indelével aos 60, através de um olhar
retroativo que nos qualifica no bonde do otimismo, ao louvar a turma de 42:
“Nascemos no ano em que Stefan Zweig se matou. Somos o contragesto desse gesto
extremo. A contraprova de que o Brasil é o país do futuro”.
Verdade tropical à parte, a propósito, a partir de que idade
mesmo se deve dar o vulcão como morto, hein? Pois não é que Seu Edivaldo se
casou aos 85 anos com uma jovem de 62? Não titubeou em abandonar sua filha de 55
anos, que o tinha sob seus cuidados. Arrumou suas trouxas no Rio e foi preparar
o café da manhã para servi-la na cama em aprazível cidade do interior mineiro,
reconhecido por ela tê-lo escolhido como sua consorte em cartório, depois de
gastar sua poupança em viagem de lua-de-mel à Europa. De navio, para ser mais
exigido.