EFEITO CIRO
19 de Agosto de 2002
Responsabilizado pelos tremores no mercado
por ter chamado de desastroso o acordo do Brasil com o FMI, sempre
subordinado aos interesses da comunidade financeira internacional e da
ALCA, o indomesticável Ciro reproduz o famoso Rei da Pérsia em 539 a.C.,
ao expandir seus domínios no atual Irã e conquistar Babilônia, a
poderosa cidade que dominava a Mesopotâmia, movido pela necessidade de
achar terras férteis para instalar as tribos persas em rápido
crescimento populacional. Conhecedor da arte do cerco, utilizou-se da
tática de assalto com arqueiros montados e combate maciço para depois
tratar bem os vencidos e respeitar seus costumes. Sua política de
tolerância religiosa, que permitiu aos judeus voltarem a Jerusalém,
provocou uma fermentação filosófica, científica, econômica e religiosa
de raízes profundas na origem das nações mais antigas do mundo. Ciro, o
Grande, fomentou os sonhos universalistas de Alexandre e de Roma.
Do mesmo quilate, Ciro rebela-se contra a
hegemonia do império empenhado em combater o Eixo do Mal. Ao dizer que
não há motivo para comemorar empréstimos que cubram gastos de um sujeito
endividado, se só o que se demonstra é o prestígio do atual governo
junto às instituições internacionais para evitar corralitos e
congelamento de bens, enquanto a Argentina não leva nada.
Por que os EUA municiam o Brasil? Porque
tem sido bonzinho, abriu seu mercado, combateu a inflação e procurou o
rigor fiscal, ao contrário dos milongueiros que deram calote, congelaram
contas correntes e se recusaram a levar adiante reformas econômicas ao
agrado da matrix. Um colapso no gigante que nasceu em berço esplêndido
seria mais assustador que o tamanho da dívida externa atual de US$ 280
bilhões - o dobro do débito argentino equivalente a 2/3 do que produz -,
e poria em posição de risco bancos americanos como o Citigroup, Morgan
Chase e Boston, e indústrias que gastaram bilhões em expansões de
fábricas no Brasil como a GM. Justificando o lobby para conter a ameaça
de afastar o país do livre mercado conforme traçado por Bush para a área
livre de comércio das Américas. Haja liberdade para se administrar e
tomar conta.
A desvalorização crescente do dólar e a
repercussão na Bolsa de Valores, embora pareçam efeitos sonoros de
radionovela quando o contra-regra agitava a folha de zinco para simular
uma tempestade, na verdade, representa uma intervenção de caráter
manipulador quanto autocrático, que contraria o regime de concorrência
perfeita idealizado por John Adams e Ricardo, pelo qual babava o imortal
Roberto Campos. A sinalizar que os candidatos postos na mesa
presidencial não lhe agradam porque não seguirão o receituário prescrito
como nos últimos 8 anos o foi religiosamente.
Do ovo da serpente, nasceu uma cultura,
sem paralelo, de seqüestros em massa na paulicéia desvairada,
armazenando as vítimas em motéis improvisados cuja decoração reflete o
labirinto da mente de seus mentores. Gerou tresloucadas atitudes de
traficantes no Rio de Janeiro, que fecham túneis, bloqueiam
auto-estradas e tomam ônibus emprestados, com trocador e tudo, para
cheirar até o baile funk in, no calibre certo para arregimentar novos
soldados e aliciar menores como escravas do sexo em troca do modelo
produzido de superbonita.
A guinada nos costumes representa a
revolta e inconformismo quanto à exploração dos negócios no Brasil,
especialmente os paralelos, a sonegação, a evasão de divisas e os
paraísos fiscais lavam o dinheiro melhor que qualquer sabão em pó. E
nada acontece. Quando prendem, solta-se, o dinheiro sequer é recambiado
ou recuperado. Diante de tais exemplos dignificantes, surpreende a
crescente politização do brasileiro, desprezando a panacéia da
internacionalização de nossa economia, visto que vendeu-se o arsenal das
estatais brasileiras, patrimônio fiado pelo BNDES, e nem por isso
amortizamos a dívida externa nem investimos o suficiente para dar na
vista e aumentar o nível de emprego.
Para não dizer que falei de flores, a
questão agrária patina, os salários públicos se encontram estacionados
na periferia, somos quase auto-suficientes no petróleo, mas afundamos
plataformas submarinas enquanto os petrodólares desviam-se, à velocidade
dos espermatozóides, para a conta Juros. O que deleita banqueiros e
especuladores, sem querer grudar a goiabada no queijo, que só se saciam
com o fluxo sanguíneo intermitente, no máximo fazem vista grossa para a
menstruação, dia em que suspendem o pregão. Menopausa nem pensar e TPM
são os temblores do mercado, agüenta-se e assimila-se.
É justamente no ponto G que é melhor ouvir
a bela Carolina Ferraz, após descer de helicóptero, trazida de São Paulo
por Alexandre Accioly, para sua festa de 40 anos na Ilha Fiscal - não
foi a última, a vida começa aos 40. Carolina nada tem a declarar sobre
política, mas afirma que o mal de alguns artistas é achar que sabem
lidar com a mídia, e o da mídia, é achar que sabe lidar com a gente.
E o efeito Ciro? Aguarda-se Patrícia
Pillar entrar em cena.