O ALONGAMENTO DO PÊNIS, A
NOVA MODA DO VERÃO
21
de Janeiro de 2002
Os racistas detestaram a descoberta trazida à
luz pelo American Journal Primatology sobre o comportamento
homossexual entre orangotangos selvagens, conforme pesquisa na ilha de
Sumatra. Acrescentá-los à lista de primatas que apresentam práticas
pederastas como parte de seu repertório natural no saciar o cio, ao lado
dos comprovadamente sodomizados gorilas das montanhas e chimpanzés
pigmeus, provoca irritação.
Sem contar os macacos cativos e os que mantiveram estreita
relação com o homem, o que só reforça a teoria de ser um traço natural e
comum aos grandes primatas, nos quais se incluem os seres humanos,
partindo do pressuposto darwiniano de que nossa linhagem provém do mesmo
estoque símio já extinto.
Aí é demais, por dois caros motivos: insinuar que quanto mais
irracional mais próximo do Cabo da Boa Esperança, segundo, a julgar
pelas aparências, por mais sutil que seja, denigre com a própria raça
dos racistas.
Por que tamanha segregação se o processo evolutivo avaliza
através de plantas e animais que, quanto mais aptos seus órgãos e
estruturas se demonstrarem na adaptação com os recursos ambientais e na
interatividade com a Mãe Natureza, menor a necessidade de viver entre a
cruz e a caldeirinha, a euforia e a depressão, a ascensão e a queda, o
ativo e o passivo, na fronteira da recordação e do esquecimento.
Graças a uma lei de mutação que renova continuamente todas as
coisas e torna o mundo tão sublime como no primeiro dia da criação,
consagrado na alternância de noite e dia que implicam na fatalidade da
troca e edificam tudo o que virá a existir de fato, um não existe sem o
outro.
Daí ser perfeitamente compreensível e válido, na defesa da
própria identidade, tradição e status quo da sociedade, que, racistas
associados a machistas e carentes de reafirmação, se utilizem da
Sociedade de Andrologia do nosso estado mais politizado - o Rio Grande
do Sul -, à cabeça do bloco na pressão à Justiça, a fim de que seja
concedido em ato reflexo, não reflexivo, a autorização de cirurgias para
alongamento do pênis.
Não se seguram nas tamancas em face da comunidade médica não
haver absorvido o alongamento de forma unânime, não temendo encarar nos
corredores de hospitais andróginos e hermafroditas transexualizando-se,
enquanto médicos preferem discutir o sexo dos anjos no afã de evitar a
vulgaridade. Fecham os olhos para as filas que dobram esquinas e
retardam o processo de satisfação garantida com o sexo renovado.
Quem sabe das coisas é o doutor Bayard Olle Fisher que atende,
em média, dez casos por semana e conhece a medida do homem, título do
seu livro. É autor da cirurgia que quebrou o recorde mundial de aumento
de pênis pertencente ao felizardo dinamarquês Björn Siena, de 4,5
alcançou 19 cm de comprimento, um lucro de 14,5 cm. Já o brasileiro,
para confirmar a fama de maior do mundo, dos 11 saltou para 27, num
ganho líquido de 16 cm.
Convenhamos que o caráter de supérfluo atribuído ao silicone
não cabe a tamanhos cotocos, sua força de argumentação fará os
argentinos encontrarem uma terceira via para sair da crise e elevarem os
pênis vitaminados à condição de hit do verão. Ao desembarcarem nas
nossas praias, desafiados pelas mulatas assanhadas a desembainhar suas
espadas, murcharão diante do inexorável ditado platino: não basta cantar
bem
Mi Buenos Aires Querido, há que saber tocar os sete
instrumentos.