PORRE DE INFELICIDADE
22 de Julho de 2002
Ficar de porre em Nova York é não enxergar
a Estátua da Liberdade e o taxista gozar sua cara dizendo que é
impossível levá-lo até lá. É observar os ingleses de cabeça baixa
curvada pela chuva que cai como um balde nas cabeças enterradas em suas
capas até a alma, e vê-los se abrigar em pubs, beber cerveja à
temperatura ambiente e segurar suas bochechas a necessitar desreprimir
até a 5ª geração. É entrar em Berlim, que já foi oriental, com os
skinhead, zonzos de
steinhager, cuspindo em seus pés porque você é negro, árabe,
turco, se moreno é italiano, se tem barba pode ser judeu ortodoxo ou
talibã, resumindo, até brasileiro.
O porre só faz sentido com a cachaça mineira, que permite
ao mais mísero dos mortais alcançar o orgasmo que nenhuma mulher pode
proporcionar, pois que não há como competir com um homem da dimensão de
uma aguardente, simplesmente porque ela não saberá derrubá-lo com o
caráter, envergadura, bouquet, grau de acidez e poder de impacto do
álcool. Que o faz muito bem, e faz mal.
Biriteiro é o que fala sem a gente entender patavina,
fantasia eu sou a mosca que pousou na sua sopa do Raul Seixas, é a
mulher que se investe de Iemanjá, sobe na mesa e sapateia de salto alto,
se isolando e fazendo de gato e sapato quem quer que venha a gostar
dela, deixando loucos quem se apaixona pela fascinante lenda desse herói
romântico e intrépido, encantador de serpentes que reverte a vida de
caretas e acaba só, bêbado, mais ultrapassado que Matusalém.
Enchem a cara para não admitir o abalado prestígio da
globalização, que impulsionou o tráfico de bebidas e drogas, diante das
acusações de fraude, concorrência desleal, adulteração de balanços para
gerar lucros fantasiosos e indução de investidores ao buraco com
avaliação tendenciosa de mercado. Ao sofrer processo antitruste, Bill
Gates argumenta que o monopólio do seu sistema operacional Windows
beneficia o mercado com o predomínio do produto, colocando a competência
e idoneidade da Bolsa de Valores em xeque, se tal declaração faz subir
ou descer o preço da ação, se o que vale é o lucro astronômico graças ao
monopólio, ou a ética na economia que prejudica interesses de parceiros
que viram adversários antropófagos.
Calam-se os laureados em Prêmio Nobel de Economia diante
de investigações sobre manipulação pelas fabricantes de impressoras dos
preços de cartuchos de tintas, sem o quê o computador anda, mas não
fala. Cortaram a palavra de doutos economistas na pulverização da maior
firma de contabilidade do mundo, ao acusarem a Arthur Andersen de
destruir documentos que provariam o esquema de fraudes da gigantesca
Enron, que, em conluio com companhias geradoras, forjaram as crises de
energia elétrica da Califórnia para elevar as tarifas.
Más companhias no apagão de governos. A ONG alemã Transparência
Internacional listou os países cujos empresários mais negociam por
debaixo da mesa, associados a figuras governamentais despudoradas nas
pressões para obter e preservar negócios de seus compatriotas. Ocupam o
pódio, Estados Unidos, França e Reino Unido. Estamos em boa companhia.