MENTES BRILHANTES
25 de Fevereiro de 2002
Descubra qualquer doença mental evidenciada por comportamento
anti-social em que a personalidade se fragmenta entre o real e o
imaginário, estabelecendo uma confusão mental que estimula a
incompreensão e generaliza o temor entre os que o rodeiam. À medida que
começa a se estressar mais-e-mais com as exigências do dia-a-dia, tende
à solidão, introspecção e má adaptação à realidade exterior. Sente-se
fora do tempo e do espaço, negando sua existência, mantém a dor
psicológica em segredo, sujeita a chuvas e trovoadas de pânico e
ansiedade: você é esquizofrênico, se acentuar a compreensão da angústia
que traz aos familiares e amigos, e pressentir que poderá ser
abandonado.
As mulheres mais refinadas ou sentimentais tinham tudo para
terem se tornado esquizóides, ao serem obrigadas a enfrentar um mundo em que boa
parte dos homens queria uma mulher para o seu próprio prazer, os maridos queriam
uma esposa para se ocupar de sua casa e do que constar do cardápio, e os velhos
queriam uma nora confiável para garantir-lhes descendência - ou ainda querem?:
ninguém procurava o amor.
Uma Mente Brilhante é uma película que não chega a
esclarecer por que a genialidade do matemático John Forbes Nash Jr.
transmuta para a esquizofrenia perante os olhos da sociedade, que
ignorou sua precocidade de gênio na resolução de equações que nem seus
próprios professores conseguiam entender e a formulação da Teoria do
Jogo, que lhe valeu 40 anos depois o Prêmio Nobel, depois de mendigar
para voltar a lecionar na Universidade de Princeton.
O esquizofrênico desenvolve idéias estranhas de perseguição,
convencido de que está sendo seguido, freqüentemente ouve vozes saindo de sua
cachola condenando-o ou dando-lhe ordens, dedos invisíveis a tocar-lhe os
ombros, a isto chamam de alucinações. Nash viveu os anos 50 em que o bacilo da
esquizofrenia foi detonado a partir da Guerra Fria, agentes do capitalismo e do
comunismo se infiltravam, aterrorizavam e corrompiam o caráter neutro da
ideologia dos cientistas a serviço da ciência, lançando-se numa perseguição
surda a quem estivesse envolvido em projetos inteligentes de desenvolvimento
tecnológico voltados para pulverizar o inimigo. Portanto, mania de perseguição
era a tônica da dualidade com que o mundo se configurou.
O mesmo caráter esquizóide com que o mundo se desenvolveu da
estética gay da era greco-romana, cuja iniciação e hábitos sexuais sofreram
radical transformação com o advento da era cristã, que nos mergulhou no
obscurantismo da Idade Média, sob o calor humano da Inquisição, em que o Papa
ditava regras nos negócios dos estados-feudos. A título de conformar os sexos à
obviedade biológica e conter o desregramento, a lascívia, a usura, o saque onde
houver mínimas chances, a sodoma e gomorra dos costumes, o vender-se barato, a
hipocrisia, enfim, canalizar o pensamento único para mantê-lo no curso de uma
onda que cresceu, cresceu... e marolou.
Uma volta completa nessa roda-gigante e eis que o poder gay
retorna em grande estilo no século XX. O fastidioso celibato imposto aos padres
abriu as portas para que adentrasse e comesse a Igreja pelas beiradas,
dilapidando um acervo religiosamente amealhado que alcançou os coroinhas. Nash
nasceu imerso nessa equação sem solução - esquizofrenia pura -, cujas incógnitas
derivam de raízes primárias construindo um teorema que, para se tornar evidente,
necessita de demonstração. Para não restar só esquizofrênico, analisou a
rivalidade entre as pessoas e calculou as probabilidades de desfecho de dilemas
criados por situações de confronto.
Nem sempre um lado perde e outro vence, podendo haver ganho
mútuo, teoria posteriormente utilizada pelos economistas para estudar
competições e negociações entre empresas. Partiu de si, de sua própria
esquizofrenia, para comprovar a tese e poder continuar a viver nesse nosso mundo
onde alucinações são igualmente verdadeiras e diabos aparecem sob forma de gente
para nos induzir a fazer coisas que absolutamente queremos e a nos trair e se
arrependerem como se nada tivesse acontecido.
Os ditos normais, sob o pretexto de não alterar a ordem natural
das coisas, põem em risco a preservação da espécie sem atentarem que não estão
preparados para sucumbir. Retaliação de guerra, catástrofes em resposta a
atentados ao ecossistema e epidemias nos induzem a cometer atos desesperados no
encalço do extermínio. A Natureza não assimila que espécies, ainda que enfermas,
desapareçam à sua revelia. Manter-se à margem de pressões estressantes pode
significar saber sobreviver em circunstâncias socialmente hostis, o que pela
natureza da alienação, reabilita os esquizofrênicos a exercer um papel
importante na preservação desse mundo que os rejeita.