TEORIA CONSPIRATÓRIA
28 de Abril de 2002
Há quem não goste de teorias conspiratórias,
achando que é viagem de maluco-beleza que se especializa em ver chifre
em cabeça de burro. São os mesmos que assistiram passivamente os judeus
serem encaminhados aos fornos crematórios. São os mesmos que acachapados
em sua poltrona favorita querem crer na solidez das instituições e votam
com medo.
Como se não bastasse a detonada nas torres gêmeas de Nova
York. Cartago invadir Roma pegando-a por trás ao cruzar os Alpes no
cocuruto de elefantes. O arrastão francês promovido no Rio de 1715 ao
desembarcar em Guaratiba e raspar o tacho desta colônia linda e cheia de
graça. O mar de lama que inspirou a deposição de Getúlio Vargas via
suicídio. O primeiro ataque terrorista a apuração informatizada na
eleição de Brizola em 1982. Entregar as chaves do Paraíso para Collor
tirar do seu governo o único prazer que lhe faltava. E por último, o
cavalo de Tróia.
Teoria conspiratória das boas é a que nos foi reservada para o
campo de batalha das eleições presidenciais de 2002. De um lado, o
gladiador indicado pelo imperador, o candidato oficial, e do outro, o
cristão que aceitasse o sacrifício de ser jogado às feras pela audácia
em pretender desequilibrar a harmonia de nossas poupanças e o real de
nossa moeda.
O jogo começou na eliminação de Itamar Franco ao não bater
chapa com Simon, aliciado que foi o PMDB para compor a chapa de Serra
com um vice a ser indicado. O nhenhenhém tucano visava recuperar o
perfil de centro-esquerda, operação mãos-limpas iniciada com a
desvinculação do PFL, depois de o ter usado durante os dois mandatos
para legislar a seu bel prazer com uma enxurrada de medidas provisórias.
Por tabela, se vingou do cassado ACM, considerado o primeiro-ministro da
era FHC - quem governava de verdade.
A desclassificação seguinte coube aos Sarney já que a
conspiração se vale de arapongas, grampos, judas, esposas traídas, de
maridos que vieram do nada, de caim e abel, e do fundamental, se for
necessário extorquir: o telhado de vidro. Com o prato cheio, basta
escolher por onde iniciará a degustar o inimigo, se pelas beiradas ou
através de grosseiras garfadas que denunciam o apetite descomunal em
engoli-lo.
Para tirar o Garotinho da disputa nada mais apropriado que um
piparote. O ministro Jobim convenceu seus colegas togados a interpretar
legislação eleitoral, com o propósito de impedir chapas que nos estados
contrariam idéias e interesses daquelas que defendem para presidente,
deixando em sinuca de bico partidos que lançaram candidatos para
barganhar vice ou apoio no 2º turno ou investir em 2006. Irretocável
zelar pela fidelidade partidária a seus princípios, mas não na véspera
do noivado. Ao não se obedecer a uma quarentena prévia para nomear
juízes da Suprema Corte, as decisões não ficam imunes às contendas
partidárias.
A tentação de se colocar no Supremo um líder do governo expõe o quanto
a democracia sofre nas mãos de inúmeros presidentes que a caftinaram, na
vilania de mancomunar os três poderes.
Os tucanos não são cheios de dedos, o fato de terem posto os
Sarney para correr deixando Zé filho hipertenso, não os impediu de
colocar um doce na boca do PFL, sabe-se lá com quantas colheres de
açúcar, e esvaziar o apoio, especialmente do Nordeste, que pode crescer
em direção a Ciro. Os pefelistas querem esquecer de Roseana, depois que
a exploraram tanto, como tema de campanha, afinal, como mulher, Murad é
problema dela - esse negócio de casar de novo nunca deu certo.
Não existe coincidência na vida, o destino do se faz aqui e agora se
opõe ao destino resignado. Se Jung estivesse vivo, atribuiria à
sincronicidade, termo que escolheu para se referir à simultaneidade no
tempo e no espaço de dois ou mais acontecimentos sem relação de causa e
efeito, cujo conteúdo significativo expressa a identidade entre eles.
Algo mais do que uma probabilidade de acasos, não se trata de sincronia
ou coincidência no tempo, mas de aglutinar as forças que marcharam
unidas nos últimos oito anos em que o Pensamento Único pintou em cores
vivas um país de Primeiro Mundo internacionalizado, globalizado, seguro
e livre de vagabundos. Para se defrontar com o candidato que julgam mais
fácil de ser batido, o operário que foi longe demais.
Quem está por trás disso tudo? O gênio do mal? O senhor dos anéis? Por
que os gênios do bem não alcançam a estatura de um Mal que nos
aterroriza com seu poder de maquinação e faz sumir o chão debaixo de
nossos pés? Ainda mais se vem travestido com um sorriso permanente no
rosto, cheio de salamaleques, com um pezinho lá, convicto de quem tem
lugar reservado na bancada de estudiosos que se debruçam sobre a
malignidade de estruturas perversas em que a alma humana encontra-se
aprisionada.
A presença do mal sempre encerra o indeciso num dilema, os
eleitores em busca de uma terceira via estão num mato sem cachorro. Como
é do conhecimento geral e para o bem da Nação, é de bom tom alertar os
políticos que o brasileiro é infiel, gosta de clones, tem como ícones as
destaques de escola de samba, e quando se casa, politicamente não é
correto. Mentalidade que leva para as urnas.