O CREDO DA PEDOFILIA
29 de Abril de 2002
Não foi possível mais abafar a repugnante
exploração de meninos e adolescentes por padres que se valeram do poder
conferido pela batina. Jogaram por terra a autoridade moral e a
credibilidade pública da Igreja Católica, desmoralizando o rosário de
perdões pelos erros cometidos desde a Inquisição, perdão por genocídios,
à mulher, negro, índio, a escravatura em geral que chancelou. Avinagrou
a recuperação de uma imagem que havia sido perdida pelo papado, João
Paulo II se tornara chefe de Estado do Vaticano.
Tentar tapar o sol com a peneira por meio de reprimendas
simbólicas, transferências para outras paróquias ou tratamento
psicológico em clinicas especializadas, não impediram nos últimos 40
anos que crianças fossem estupradas com o requinte do padre Shanley em
seu trabalho pastoral com meninos de rua. Jogava strip-pôquer - tira-se
uma peça de roupa a cada rodada perdida - com os candidatos à primeira
comunhão e depois rezava missa, dando sua modesta colaboração à expansão
das instituições psiquiátricas e indústrias de tranqüilizantes.
Bispos omitiam de outras dioceses a pedofilia que grassava
em aconselhamento de adolescentes atormentados com problemas sexuais e
drogas, numa cumplicidade indecorosa que compromete a alta hierarquia da
Igreja e confronta a justiça de Deus com a justiça humana. Quem peca tem
o direito de se redimir ao se ajoelhar no confessionário e ser perdoado.
Já a sociedade exige justiça, socorro!, chama a polícia, temos inúmeros
filhos para criar e proteger de novos ataques de acusados impunes e
outros amorais acobertados pela sombra da Moral.
João Paulo II virou uma lenda em meio ao mal de Parkinson,
a ser embalsamado em vida tal como Lênin o foi em morte - o papa não é
obrigado a renunciar nem é possível prever até quando ele ficará vivo.
Seu andamento pesado e vagaroso debilita o símbolo do Sumo Pontífice
sobre o qual se alicerça o poder patriarcal e centralizador de uma
Igreja unócula, versada na rigidez moral, cujo ápice em 23 anos de
pontificado foi derrubar os regimes comunistas da Europa em efeito
dominó e reduzir a pó a Teologia da Libertação, ao longo de um percurso
que correspondeu a 30 voltas em torno da Terra, por 125 países, para
bater o recorde de canonizações.
O alarme tocou quando o arcebispo Paetz, amigo de João Paulo
II, renunciou na Polônia. Quando a Irlanda torra milhões de dólares em
reparações para fugir da Justiça. Quando países mais negligentes em
matéria de moral e de investigação policial, como o Brasil, começam a
prender, é sinal de falência na virtude moral e nos cofres do Vaticano,
as doações irão minguar.
Para quem tinha de lidar com permissão para casamento de
divorciados ou com a velha pílula, evoluir para a pedofilia de batina é
mergulhar na realidade do homossexualismo no sacerdócio, a maioria dos
casos envolve padres com garotos crescidos. Já vão longe os tempos em
que eles construíam passagens secretas em conventos para chegar nas
freiras.
A questão esbarra no celibato obrigatório, jurisprudência firmada pela
mentalidade inquisitória, não prevista na letra evangélica, mas que não
afeta a peculiar flexibilidade dos africanos, a maioria possui amantes.
Nem a mulher do padre, que merece um monumento pela devoção a quem não
conjuga mais a missa em latim.
O sexo ainda é um mistério, desde o Evangelho segundo Jesus Cristo, a
despeito de toda liberdade sexual que atingimos.
Para quem acredita na plenitude do sexo, no sexo tântrico e no
orgasmo múltiplo, a vida religiosa infunde a falsa esperança de
controlar o impulso sexual, se pervertido ou não é outro problema. Para
Le Pen, o mais novo sociólogo da praça, a libertinagem tornou padre
necessitados de exorcismo que se aproveitaram da imunidade da batina e
corromperam menores. A terceira via afunila a questão de que a
abstinência sexual leva à perversão. Por cortar o que tem de mais
natural na nossa existência, o celibato ampara os conflituados sexuais,
atraindo os que não agüentam a pressão da sociedade a exigir uma vida
sexual normal, no seio de uma família.
Rezemos para que Deus ilumine sua própria Casa, onde impera o segredo
no frigir de escândalos. A resistência física de um grupúsculo de
prelados idosos está no limite para superar uma das maiores crises da
Igreja desde o Holocausto. Pior do que Hitler só a pedofilia, tiro
certeiro no coração da família.