MULHERES SEM CALCINHA
Carnaval de
2002
Luma de Oliveira nesse
carnaval suscitou o tema de as mulheres poderem se vestir e sair às ruas sem
calcinha, ao ser assim fotografada como destaque da Viradouro, alegando em sua
defesa portá-la na cor da pele, argumento considerado falho pelo bloco de
carnaval fundado na causa, intitulado Eike marido bom!
Estamos a viver uma nova
era de costumes em que a mulher, insaciável, reivindica, exige e deseja mais, só
restando ao homem assistir, de camarote. O uso corrente sempre foi de tentar
aprisionar a vagina ao se pôr fim no desregramento pré-cristão, seja colocando-a
a ferros nas torres de castelos, segregando-a em mosteiros, aferrolhando-a em
cintos de castidade, até as solertes ameaças hodiernas de amordaçá-la com
corpetes, anáguas, calçolas, Tampax e calcinhas, quando não era o homem que se
introduzia para calá-la definitivamente.
Apesar de a Igreja haver
sacramentado que exibir a genitália no carnaval é sacrilégio, a mulher acordou
para a necessidade de sacar essa peça incômoda desde que Lílian Ramos levantou a
questão para o presidente Itamar no auge da folia do Sambódromo, eriçando seu
topete e ungindo FHC nosso sucessor. Tanto ela tinha razão que virou
celebridade, com direito a marido rico e palazzo na Itália, incluída em lista
dos mais elegantes de revistas parisienses, ao lado de Gérard Depardieu.
No início, sente-se um
certo desconforto em dormir nua, pois o novo hábito exige amor desusado pela
nudez e desfilar pelada por entre os cômodos do lar. O processo de
conscientização passa pela calcinha marcar o corpo - que coisa vulgar! - e
divide a bunda adentrando com material estranho em recinto que demanda cautela.
Há ainda que vencer a barreira da vergonha de subir a saia com o vento safado da
Marilyn Monroe. Sem contar o velho pudor: causa excitação enorme quando ambos os
sexos imaginam a esvoaçante saia, sem calcinha. O choque apenas transparece o
desejo de experimentar e não ter coragem, ou de querer ver somente nas mulheres
dos amigos.
Não usar calcinha é um
toque de elegância, positivamente é um estilo que atiça os “homens que vestem
uma mulher”, como apregoa a propaganda, se deixando envolver por essa nova cara
e assumindo sem medo ela, que se sente à vontade, protegida na aceitação
inconteste, querida como a rainha-mãe, tão gostada e amada que alfineta as que
resistem em permanecer no estado virginal não abortado.
Mas o homem, via de
regra, não se encontra preparado para esse desmanche e prefere não tomar
conhecimento de que ela não está usando calcinha, porque se souber, não vai
precisar olhar se está ou não, isso é tarefa de fotógrafo. Prefere, através de
suas sensações primárias, conduzir seu barco segundo o rumo ditado por seus
complexos, recalcado na frustração de não poder interpretar mais essa iniciativa
das mulheres em ampliar as suas demonstrações de amor e redirecionar seu
horizonte afetivo.
Quisera ele possuir um
coração ingênuo e com pureza d’alma encontrar sua alma gêmea, sem calcinha, que
o completasse numa magnitude que nem sua mãe edipiana a superaria. E é isso que
dá medo.
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