RAIOS QUE ME PARTAM!
01 de Dezembro de 2003
Esse negócio de agentes da equipe
econômica de Lula afirmarem, com todos os efes e erres, ser o Malan
merecedor de uma estátua, revela uma falta de cultura geral a respeito dos
ícones políticos de 2003. Esqueceram-se da última estátua que veio abaixo -
a de Saddam Hussein -, sem contar o fetiche de Bush derrubado em Londres.
Faz com que a gente encha a boca, ao xingar o juiz, e soltar o
petardo: “é tudo da mesma laia”. Com quem costumamos juntar num saco
sem fundo policiais, advogados, bombeiros, bancos do governo que nos
tornam neuróticos em filas que só satisfazem carentes afetivos.
Raios que me partam!
Nessa hora, mal nos damos conta que tal
indignação escorre da baba hidrófoba de nossas bocas bovinas que a
tudo ruminam, engolem e não conseguem digerir a desfaçatez de ser
hoje o que abjurou ontem. Ser amanhã o que jurou em vão num passado
já remoto. Acordar hoje com o dever cumprido amanhã, na esperança de
que a memória de elefante se converta na de formiguinha, que ousava
dar lições de moral à cigarra.
Em termos macroeconômicos, é preferível a elite econômica fazer
meia, com Malan entrando com o capital intensivo, e o Marcos Lisboa
com o trabalho pensante na automatização da produção de meias que
agasalham no inverno e são fresquinhas no verão.
Posto que nada mais entendem do que lucrar. O mandamento
equivalente ao “Não matarás”. Lucrar renegociando dívidas. Lucrar
aumentando impostos. Lucrar com números, percentuais e estatísticas
infectas de hipertensão. Lucrar no descumprimento de contratos de
trabalho para cobrir rombos fiscais. Lucrar com a rolagem dos juros.
Lucrar com a manipulação do dólar para o feliz natal dos
exportadores. Lucrar com a privatização. E a economia ir bem e o
povo mal, segundo o saudoso Médici, ao confundir torturas com
milagre econômico.
Lucrar com o verniz social do engraxate, que lustra tão bem os
sapatos do seu patrão que parece massagem.