O ANEL DE GIGES
06 de Outubro de 2003
Platão conta em “A República” que Giges,
pastoreando suas ovelhas, encontra uma cratera aberta e vislumbra o
cadáver de um homem num cavalo de bronze. Com um anel no dedo. Giges
descobre que, manipulando o anel, pode se tornar invisível. E
cometer várias ações maldosas e perversas para se vingar do mundo
injusto e ingrato.
Tudo relacionado a grego vira lenda ou mito para nos explicar
que toda ação é legítima, enquanto não conhecida se o que a move é
do bem ou do mal. Luta-se pela democracia e para facilitar o acesso
do leigo a instituições obscuras que interferem no bem-estar da
população a que servem. Enquanto uma luz pública ali não penetrar,
incentiva-se uma série de atos moralmente abomináveis. Sufocam-se
CPI’s, arquivam-se investigações sobre grampos, parem e abortam
dossiês do nada, distribuem cala-bocas a três por dois, para impedir
que a história real venha à tona.
Luta-se para que não proliferem os Senhores do
Anel de Giges e haja transparência no percurso político, de forma
que os rastros identifiquem seu perfil e se há delinqüência nos atos
cometidos. Preserve-se o voto secreto do eleitor e torne-se público
a vida privada do parlamentar ao votar a causa pública, senão ofende
o cidadão que representa, emasculando a cidadania, que é feminina.
Que se abra a caixa de Pandora não somente para avaliar a política
em termos de honestidade pessoal. Pautar o comportamento público
apenas pela corrupção é manter o cérebro ocupado com a pena de
Talião. Alá é grande, mas olho por olho, dente por dente, derrubam
torres e satanizam talibãs, e não transparecem o que o Anel de Giges
destrói inescrupulosamente.
Anos de construção e dor consumidos para propiciar um mínimo de
paz e boa vontade aqui na Terra como no Céu.