CONTRAPARTIDA
08 de Junho de 2003
O Brasil é o país dos modismos, quando não
era economista foi sociólogo a inventar jargões como manobra
ilusionista. Agora é a tal contrapartida, conhecida na chata da
Contabilidade, que exige a cada débito um crédito correspondente,
que cubra sua dívida ou seu perfil de cidadão irá para a lista negra
e execução no ato da cobrança. É assim que bandidos se tratam,
bancos o tornam insolvente e caçadores de heranças se habilitam em
inventários. Foi em cima da Fome Zero, como contrapartida para
liberação de recursos de tetas governamentais, que setores
esclarecidos do meio artístico se engalfinharam.
Foi como contrapartida do meritório esforço
desempenhado pelos subdesenvolvidos pró- controle da inflação,
submisso aos ditames do FMI que redundaram em desemprego e numa onda
incontrolável de assaltos, que Lula propôs ao clube dos oito mais
ricos taxar a indústria bélica.
Criaríamos uma nova ética - a época é
alvissareira. Convalidaríamos o incremento na utilização de armas
essenciais para nos protegermos de criminosos, visto que a taxação
mataria a fome de formidáveis massas humanas à margem do processo
civilizatório. Plenamente convencidos de que a pistola é um mal
necessário, a escopeta fundamental para suicídios e o trabuco, um
nome de respeito. Para gáudio de Charlton Heston e sua Associação
Nacional de Rifles, que ririam de escárnio lembrando: e as armas
brancas, se esqueceram?
Se inevitável a violência, por que não tirar uma
casquinha politicamente correta em favor de comer 3 vezes ao dia?
Por que não tirar um sarro, se a contrapartida da relação sexual é a
satisfação garantida? Porquanto tirar prazer seria pedir muito,
tanto quanto ordenar o sistema capitalista para não ficar uns com
tanto outros sem nenhum, desmascarar guerras de fachada contra
homens das cavernas, coibir o estelionato no discurso eleitoral.
A nós só resta deixar o microfone aberto, a
liberdade de imprensa nos assegura a contrapartida de levantar
barricadas contra o logro. Não que não se possa mudar de opinião,
mas precisa travesti-la quando se alcança o poder para governar de
olhos vendados, fixados na manutenção da taxa de juros, cujos
bilhões de dólares que amortizam nosso endividamento, matariam a pau
a Fome Zero?
Ao reconhecer que abstrata é a esperança para
mudar, vale o concreto da libido do Senhor Mercado em manipular a
economia e arrancar lucros desumanos, que não saem de dentro do
cofre, enquanto permanecemos à mercê de seqüestros relâmpagos,
condicionados a baixar a liquidez nos bolsos.