METÁFORA
08 de Setembro de 2003
Lula pode descansar em paz. Livre da
patrulha filosófica de uma elite intelectual metida a besta que
procura enquadrar suas metáforas no raso ou sem saliências. Foi dada
a partida para as eliminatórias da Copa do Mundo. O futebol é um
prato cheio de metáforas. Capaz de mexer com a auto-estima dos
jogadores e escrever a epopéia de 2002 no Japão, depois da
humilhação sofrida na França a partir das convulsões de Ronaldinho.
Um esporte que destruiu a vida do goleiro Barbosa porque tomou um
frango em 1950. Desgovernou um Sócrates em 1982, que nunca se
aprumou como técnico nem comentarista, em sendo doutor.
As metáforas se concentrarão no ego, já que a vaidade é uma
armadilha fatal. Como reverter ao espírito amador campeões
profissional e financeiramente realizados? Como descobrir se existe
oxigênio na chama e ambição de cada um, se ganhar não faz mais do
que obrigação? Mas não adianta varrer inconveniências para debaixo
do tapete, a caixa-preta do futebol não resiste às pressões pela
vitória, logo se investiga quem faz corpo mole, pipoca ou prevarica.
Atingir a moral de outrem é a tônica para subir ao pódio.
A exemplo do duelo entre os poderes Executivo e
Judiciário, iniciado no paralelo entre a realidade dos magistrados e
a do cortador de cana, em que Lula evidenciou uma nostalgia fora do
tom do Lula sindicalista e cubano que se esvai, em favor do
doktor
Palocci que segue à risca o receituário médico do FMI.
O que deu margem a Mauricio Corrêa, presidente do STF,
contra-atacar a “peroração, do ponto de vista aristotélico,
peripateticamente no palco, indo para lá e para cá, e, do ponto de
vista figurado da exacerbação da linguagem, cometendo certos
impropérios que depois precisam ser corrigidos pela habilidade de
José Dirceu”. Uma afronta aos poderes constituídos? Em idioma que
mistura latim e grego no jargão forense? Do tipo “me entendam se
vocês conseguirem”? Um petardo arrasa-quarteirão para desestabilizar
o centralismo vigente concentrado em defecções stalinistas ou
cooptações para poder governar.
O poder se esgueira pelos desvãos de palácios à mercê de
aristocratas do saber, deslumbrados com a ascendência atingida,
gravitando numa órbita distante do imaginário popular, que reza,
reza, reza, e nem sempre alcança.