SENADORA DAS ALAGOAS
10 de Fevereiro de 2003
Heloísa Helena é senadora das Alagoas, não
da República de Alagoas como qualquer Estevão mal-intencionado, bem
apessoado e à altura dos critérios que nortearam sua fortuna, possa vir
a difamá-la.
Senadora, não dê ouvido a ecos que vêm do
Congresso respaldados em grotões de eleitores que só enxergam o homem
como animal reprodutor que nem fazer sexo direito sabe.
É do conhecimento público que a senhora não é
chegada a uma assessoria que a poupe dos atritos, assim como José Dirceu
ou Genoíno preservam o Presidente Lula. Nem se perturba com a imagem de
Joana D’Arc ao servir de bode expiatório do PT, na mais pura tradição de
acender a fogueira para mostrar aos outros o caminho da roça para a
turma da Moniquinha, a turma dos línguas soltas.
A senhora não pode desconhecer o marketing,
mesmo porque, ao vestir jeans e camisa branca nas sessões do Senado,
cria um tipo ao melhor estilo de estudante guerrilheira que não larga o
Diretório Estudantil. Consulte o Inocêncio, aí do lado, enfiado em
sandálias do frevo e maracatu, ou para que não vire uma onça com mais
uma discriminação odiosa ao Nordeste, consulte, lá no sul, a Ester
Grossi com seus cabelos ora roxo, abóbora, verde, vermelho.
O povo fala, a senhora sabe, amarrando a cara ou
não. Se nos irritamos quando provocados, aí mesmo é que um apelido
pespegado pega, o sarcasmo incorpora e o deboche encrua.
A senhora foi a parlamentar que mais se destacou
nas últimas CPI’s, imprensou na parede o senador amigo fiel de Collor e
o vetusto ACM, ao melhor estilo de Davi contra Golias, de que tanto se
orgulha, aí inserida no perfil quixotesco de Antonio Conselheiro e Maria
Bonita com seu amado Lampião.
Está claro que merecia capa da revista Veja
consagrando a Senadora 2002, pois virou manchete e globalizou o fascínio
que a fraude no voto ainda provoca nos políticos, até dentro de seu
próprio galinheiro. Mas a prestigiosa revista resolve redimir-se do erro
e explorar, em matéria de relevo, seu medo diante da desesperança de um
mês do governo Lula. No pressuposto de que diabetes vende mais, Veja
perdeu a chance de explorar na capa sua inocência, o que justificou o
apelido de freirinha, em razão de seu vestido vermelho na posse.
Sei que V. Exª. está pouco se lixando para essas
convenções e ultrajes, quanto mais azucrinarem, aumenta sua vigilância
no projeto Fome Zero, a ter de romper o histórico assistencialismo com
geração de emprego, qualificação de trabalho e organização em
comunidades. No perfil tecnocrata da equipe econômica, preocupada em
repetir a tabuada do FMI ao engatinhar os primeiros passos, sem
diferençar da matemática financeira anterior. Na aposentadoria do
presidente do Banco Central que não salga o déficit da Previdência, pois
que pago com os dólares do Bank of Boston, mas alevanta a seguinte
questão que faltou na sabatina ao executivo brasileiro mais bem-sucedido
no setor bancário internacional: milionário pode militar, ser
companheiro, prestar continência ao Brasil - ou ao ex-patrão? -, nas
alegrias e nas doenças, até que a próxima eleição nos separe?
Contudo, senadora, todos estão a observar que
sai fumacinha dessa cabeça, e não é para avisar que “habemos novo Papa”.
Não perca o bonde da História, o momento é ímpar para o Planalto descer
do Olimpo e semear, mesmo que os que plantam não colherão. Convido-a a
refrescar sua moringa em Ipanema, no Carnaval, num de seus redutos no
Posto 9, e aplaudir conosco o pôr-do-sol do Rio em sintonia com o
Corcovado e o corpo dourado da carioca da gema, ao som do apito do
samba, que vai começar, e do cachimbo da paz.