ELOGIO À ESPERTEZA
10 de Novembro de 2003
Apesar de o presidente Lula ser o
mandatário mais admirado das Américas, segundo os latino-americanos,
o jornal francês “Libération”, inconformado com alternativas à
globalização que não vingam, decretou que o ícone já era. Muito
comportado, para não decepcionar. Transformou-se num transgênico,
geneticamente modificado pelo exercício do poder.
Pegar pesado é a tônica em casamentos desfeitos. Contudo, num
país que enfrentou 22 anos de ditadura e tem 55 milhões de pobres,
quem, em sã consciência, pode imaginar que tudo irá se inverter? Ao
mesmo tempo em que o governo pede paciência, acusa que o tempo
conspira contra. Vamos adiante, impacientemente, rumo ao Brasil do B
e não ao Brasil de Lula.
Mas como? Como pavimentar uma via sobre os
destroços da herança maldita da gestão temerária dos tucanos? Não
tiveram o pudor de afundar o Brasil para ganhar as eleições, a
qualquer preço. Qualquer economista de meia-tigela, ph.D inteligente
ou tecnocrata que deguste um bom vinho teria evitado o malbaratar da
inflação e a ascensão do risco-Brasil. Na razão direta do que
resultou no endividamento, tungaram o bolso do desavisado que se
desguia na rua de quem mete o olho no seu celular, obrigado a deixar
seus pertences na barraca ao lado para dar um mergulho, e não sair
de casa à noite com vergonha dos exemplos que vêm de cima.
Má-fé que merece ser patenteada.
E o PFL, posando de oposição? Dividido entre Von Borhausen, ACM
- perdido entre painel de votos do Congresso e grampos - e o Kaiser
César Maia. Se o médico Palocci não satisfaz, imaginem a reedição de
Bob Field, que defendia a diminuição do Estado a uma sala com
office boy
para anotar os recados do patrão, assim como reduzir a previdência
ao salário mínimo. Sem se importar com a fome e a miséria de
áfricas, índias e iraques, uma palestina só, que empurra o mundo,
inexoravelmente, para obrigá-lo a solucionar o problema ou
eliminá-lo, ao se perder a esperança na cidadania.
Debocham da cidadania: é só gordura verbal, de caráter estiloso
chegado a uma atitude, dando ilusão que acrescenta miolos ao
cérebro. Acreditam que só se melhora o padrão de vida fazendo
crescer a economia, fingindo desconhecer que a especulação rende
mais juros que o capital aplicado na produção. Desdenham das bolsas
de diversos gêneros, são programas assistencialistas para enganar os
crentes a votarem em bispos que manipulam o bingo das eleições.
Insensíveis ao clima de insegurança reinante ao desprezarem o
mínimo com que muitos sonham, através do milagre da multiplicação
dos pães. Vivemos emprenhados dessa miserabilidade moral e miséria
humana, e nada fazemos. Cruzamos os braços diante de exploradores
que proliferam que nem coelhos, pouco importa o hemisfério,
utilizando-se do intelecto ou da intuição. Qual seja o meridiano,
como canal de energia vital para atingir um nível rasteiro de
considerar o ser humano como otários numa fila esperando para serem
enganados.
O planeta Terra tem que superar esse carma. Para evoluir.