SCHWARZENEGGER
13 de Outubro de 2003
Há quem sinta vergonha dos presidentes que
elegemos no Brasil, seja ele educado na Suíça, com pedigree de
sociólogo ou mesmo operário. Pois se a poderosa nação americana nos
dá mostra da expressão viva da liberdade e vota sem discriminar, por
que os falsos pudores em torno de garotinhos e rosinhas?
Pois se Reagan, ator classe B, desencadeou uma guerra nas
estrelas para exterminar o comunismo da face da Terra. Deus
cansou-se de tanta heresia proferida por ateus desalmados e falta de
conhecimento científico de agnósticos sobre espiritualidade,
encarregando o Papa João Paulo II dessa missão, ao lado de Reagan.
Portanto, nada mais natural que Arnold
Schwarzenegger se candidate a governador da Califórnia. O fato de
admirar Hitler por ser um homem simples, quase sem educação, que
chegou ao poder, não deve ser lido ao pé da letra. Mera
identificação nas origens como imigrante austríaco - cujo pai foi
membro do Partido Nazista -, que venceu nos Estados Unidos como
Mister Universo, até virar herói em filmes que exaltam o espírito
guerreiro e triunfante do povo americano.
A exacerbação do triunfo tem um caráter fascista, quando se
proclama a natureza invencível que inflamou a têmpera de um povo tão
difuso. A carapuça de perdedor é tudo que eles não querem enfiar. As
matanças promovidas por estudantes em colégios encontram sua raiz na
rejeição aos que não se adaptam aos métodos de avaliação da
sociedade.
Mas é a oratória que leva Schwarzenegger a se deter mais em
Hitler, e o que conseguiu com isso. Pára aí a identificação. Cabe a
ele transformar a imagem de fisiculturista construída à base de
anabolizantes. De livrar-se das acusações de assédio sexual cujo it
era apertar o bico dos seios, reforçando a fama de machão numa
sociedade em que mulher é sinônimo de lei. De apagar os vestígios de
mulherengo, tarefa mais fácil, pois qual a Monica Lewinsky que irá
se comprometer ao denunciá-lo como ruim de cama?
Afinal de contas, vivemos um momento em que não sabemos onde
inicia a realidade e acaba a ficção, se Schwarzenegger faz amor
conforme extermina inimigos, se não desperdiça a chance de enfiar o
rosto de uma mulher numa privada. Se não pega pesado com o sexo
frágil, com suas mãos calosas e bafo de animal, a despeito de uma
dissidência no meio preferir. Se não levanta a saia como um velho
decrépito, apenas para apreciar aquilo que não dá mais conta. A
dizer gracinhas no ouvido, êxtase de sadomasoquista para examinar
fisionomias com escrúpulos ou não.
Mas, se casado, o puritanismo da sociedade americana perdoa.
Com quatro filhos, o atestado de bons antecedentes. Se a esposa é da
família Kennedy, a conjunção perfeita dos Partidos Republicano e
Democrata. E se ela sai em campo em defesa do maridão, o eleitorado
carimba como autêntico.
E lhe delegam a missão de exterminar o Iraque. Hasta la
vista, baby!