CIÚME
14 de Julho de 2003
O mundo se estreitou violentamente e a
realidade não comporta paraísos. A idealização de manter acesa a
chama da união mais sublime, revestida de lirismo e pureza,
esbarra no ciúme que corrói o amor.
O ciúme normal protesta, demonstra amor na exata medida de
segurança do relacionamento. O ciúme patológico contesta,
baseado no forte sentimento de posse a ponto de considerar você
como alguém que lhe pertence. É preciso distinguir amor de posse
se, no instante do orgasmo, ele insinuar-se no ouvido dela com
um “você me pertence”. Não quer dizer que deseja enjaulá-la e
que de lá só poderá sair se ele resolver abrir a porta.
O ciúme deixa de ser normal quando passa a
dominar o relacionamento. Como não aceitar que o parceiro faça
um programa sem a sua companhia. Mexer em suas gavetas,
vasculhar as ligações recebidas no celular, sentir a necessidade
de saber onde ele está o tempo todo. Pôr-se a fantasiar,
imaginar e criar sua própria história, tirar suas próprias
conclusões e achar que está certíssimo!
Ao necessitar provar que o amor existe a todo custo, o ciúme
começa a se transformar em desvario comportamental, dando
ouvidos a murmúrios de que é o braço armado da possessividade.
Bolas, como diferenciar o ciúme de um interesse pelo que o outro
faz e pensa no dia-a-dia, sem implicar em controlá-lo?
Difícil definir a fronteira entre ciúme e interesse, pois fácil
é camuflar o ciúme com arroubos de interesse, porquanto, é de
fato e real o interesse, o parceiro não consegue distinguir.
Quem sabe me dizer qual é o contrário do ciúme? Não existe.
Porque se não há ciúme, inexiste o interesse e o cuidado para
com o outro. Portanto, não há relação. Mas se o ciúme persiste,
imperam a exclusividade, o receio de que o ente amado dedique
seu afeto a outrem ou simplesmente cultive o medo de perdê-lo.
Melhor faríamos em sepultar a estúpida realidade de relações
possessivas, que transforma o amor em escravidão e esvazia o
conteúdo das juras de amor que conferem magia ao dia-a-dia. O
importante é sair de dentro de si para alcançar o bem-querer de
quem se ama. Calar a máxima de só conseguir amar a nós mesmos,
na essência do egoísmo. Há que mexer em casa de marimbondo e
comprar remédio caro, pois o homem só entra no desejo da posse
quando realmente se interessa. Enquanto a mulher exige a prova
para entrar no desejo de amar.
Tendo em vista que o ciúme patológico faz parte da normalidade,
é melhor manter-se desperto, pois se dormir no ponto, muita água
passará debaixo da ponte e deixará de ver coisas que nem Deus
acredita.
O ciúme existe para confirmar o interesse, a atração, o tesão.
Caso contrário, é melhor mudar de assunto.