DE ANIMAL, BASTA O
HOMEM
15 de Setembro de 2003
Hedy Lamarr foi considerada a atriz mais
bela do mundo na década de 40. Depois de protagonizar o primeiro nu
frontal feminino da história do cinema em “Êxtase”. Celebrizou-se em
“Sansão e Dalila” quando seduziu o herói bíblico para tosar seus
cabelos e retirar-lhe a fortaleza, levando-o à ruína. Trocou a vida
artística pela engenharia eletrônica, sendo reconhecida pelo governo
norte-americano no desenvolvimento do sistema de radar do avião
invisível e do equipamento de transmissão hoje usado em celulares.
Passou os últimos anos de sua vida sozinha e esquecida. Ao
contrário de Connie Reeves, a legendária amazona dos Estados Unidos.
Nasceu em cima de cavalos e surpreendeu o público com vários estilos
de montar. Durante 70 anos ensinou a cavalgar mais de 30 mil moças.
A própria personificação do centauro. Se possuísse um reino, o
trocaria por um cavalo. Um dos raros casos em que alguém rogaria a
Deus para reencarnar como uma égua. De animal, basta o homem.
Assim também pensava Hedy Lamarr, ao se recusar
a dormir com os chefões dos estúdios e ser boicotada. Se estribava
na máxima de o que as outras fazem por dinheiro, apenas o amor
regula a sua vontade. Desprezava a expressão corporal que levava ao
estrelato hollywoodiano, minimizando a sedução das telas, pois que
basta ficar parado e fazer cara de burro, se quiser transparecer
mistério.
Um contundente sentido da realidade. Contrário a concepções
românticas da vida, de idealizar o real. Com a isenção e a agudeza
de uma cientista, Hedy Lamarr pintou um quadro da realidade banal
que assola o cotidiano, se esquecendo de que fatos e personagens se
misturam em busca de algo que os retire da mesmice da modorra. No
afã de despertar para uma outra realidade.
Como a que aconteceu a Connie Reeves, que encontrou a morte aos
101 anos, jogada ao solo por seu cavalo favorito. Interrompendo um
namoro que não pressupunha exclusividade e em cuja realidade pôs o
melhor de sua arte.