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TAPA DE LUVA DE PELICA
16 de Junho de 2003

Restou-lhe o cachorro como única companhia. Depois de compelido a confessar, para evitar o impeachment, sua versatilidade no intercurso sexual, ao não desdenhar das mulheres aparentemente menos dotadas. O sexo oral se encarregou de eliminar o preconceito. Traída, Hillary Clinton se dividiu no papel de esposa nobre e leal, ao se manter casada com seu marido infiel, e de enganada e humilhada, desde que o sêmen de Bill manchou sua reputação e engavetou a língua de inúmeras vigaristas na fila para tirar uma casquinha do presidente dos EUA.

Ao padecer nesse universo de dois infernos, se converteu num fenômeno de autocontrole emocional e de uma visão política que supera o mais maquiavélico dos seres, político ou homem, tanto faz. Principalmente depois de exposta à execração na imprensa, em que apenas manifestou desejo de torcer o pescoço do grande amor de sua vida.

Como senadora de Nova Iorque, procurou criar uma identidade política própria que lhe permitisse se desvincular da figura do presidente que a ultrajou. A pá de cal em vestidos manchados de sêmen foi no lançamento de sua biografia, em que humanizará a personagem que está construindo. Oito milhões de dólares pelos direitos a emanciparão de vez.

A obra prepara o terreno para a campanha presidencial de 2008, com o chamariz de se tornar a primeira presidente mulher dos EUA. E subir no pescoço de Bill, se aproveitando de sua fama e de estar fora do páreo - mandam no mundo apenas por 8 anos sem repeteco. O que equivale a dar um tapa de luva de pelica, ao transformá-lo em primeira-dama para amargar o pão que o diabo amassou, provavelmente lhe confiando o controle das forças de segurança. Decerto não desperdiçaria essa boquinha.

Sexo oral e submissão estão intimamente correlacionados. Rompe-se o silêncio de Hillary, o que a retira da condição passiva que a igualava a Monica Lewinsky, e enche de esperanças o feminismo americano, acabrunhado com as garotices de Clinton.

Será que o seu percurso serviria de exemplo a outras mulheres? Em vista de a realidade nunca se comportar como idealizamos. Reforçando a imagem de vingança aos maus-tratos habitualmente praticados pelo homem. Afinal, mesmo em segundo plano, Bill não perderia a chance de adentrar de novo na Casa Branca. De inesquecíveis recordações.

O que poderia deixar a mulher em maus lençóis, visto que seu vício é confesso, somente a senilidade dará fim. Convocar a raposa para dormir no galinheiro pode se tornar um pesadelo pior do que Osama e Saddam aparecerem vivos.

 
Antonio Carlos Gaio
 
 

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