BRUXAS DE SALÉM
17 de Novembro de 2003
O fato de sermos uma potência cristã não
nos autoriza a abusar de Deus, desvalorizando-O numa mísera nota de
1 real com “Deus seja louvado”. Nem muito menos colocar um cajado na
mão da governadora Rosinha Garotinho, que instituiu o ensino
religioso confessional (separado por credos) no currículo básico das
escolas públicas, ofendendo a liberdade religiosa garantida pela
separação entre o Estado laico e as igrejas, princípio das
democracias republicanas que superou a onissapiência da Inquisição.
Desde que seu marido sofreu um acidente que quase lhe tirou a
vida e o casal se tornou crente, a resgatar uma dívida na prática
política, com a qual nós nada temos com isso, além da solidariedade
e da compaixão, a população vem sofrendo a desventura de ser atéia
ou de não ter escolhido a fé certa. Agora essa, instaurando o
fundamentalismo religioso através de autoridades eclesiásticas que
definirão o conteúdo das disciplinas.
Fazendo crer que Leonardo Boff jamais será
consultado, já que a jurássica medida implica em punir com
afastamento ou demissão o professor de religião que perder a fé e
tornar-se ateu. Pois se o Vaticano perdeu a fé e o induziu a uma
exclusão branca!
Desprezam o ecumenismo que rege o fundamental no ensino, ou
seja, que se repasse apenas os valores éticos, históricos e
antropológicos comuns a todas as crenças. A escola não é extensão de
igrejas, templos, mesquitas e sinagogas, quando o que se precisa é
que o aluno recobre o gosto por ler e saiba interpretar o texto a
que se propõe entender. Que não ponha a carroça na frente dos burros
e que não se dependure nos galhos por acreditar em milagre. A escola
foi concebida para voar através da imaginação, mas com os pés no
chão. Caso contrário, a aula vira sessão de descarrego, incorporação
de espíritos, cântico de mantras, hare krishna, meditação, levanta a
mão e se entrega a Jesus!
A rigor, se fôssemos levar a sério a globalização, o ideal
seria uma cadeira sobre o ecumenismo para aprendermos mais sobre
islamismo, budismo, taoísmo, em contraste com o cristianismo, do
qual já estamos carecas de saber. Aprender a distinguir a diferença
entre religião e filosofia.
Senão nossos filhos correrão o risco de se tornarem bruxas de
salém, vítimas de fanatismo e abuso de poder. Desencadeada uma
loucura coletiva a serviço de uma causa religiosa, desde que atraída
uma massa interessada em erradicar a droga, o homossexualismo, a
prostituição, os vícios em geral que desvirtuam a molecada. A chave
do poder é a garantia para entrar no reino do Céu.