NÃO É FLOR QUE SE CHEIRE
18 de Março de 2003
Vivemos um momento na política, nas artes,
na estética, na gerência dos bancos e nos condomínios em que preferimos
entregar o bastão do comando às mulheres. As pesquisas acusam uma
posição majoritária em favor de uma postura incisiva ao invés do
nhenhenhén, de uma honestidade que dispense grampos e assuma riscos,
desobrigadas de engravidar um governo cujo filho seja o resgate do
gênero humano.
Sobre as mulheres recai a fama de cobrar
demasiadamente nos intervalos comerciais de casamentos e é natural que o
tiro saia pela culatra, quando no exercício do poder, sejam cobradas
impiedosamente por machistas enrustidos desgostosos com a perda de seus
privilégios.
Posto em pratos limpos, vamos à roupa suja. O
desserviço à causa da mulher avaliado pelo desempenho de três ilibadas
políticas no transcurso de seus afazeres executivos. Na maior
intimidade. Zélia, a primeira, a nossa dama de ferro que confiscou a
poupança nacional, dançou no
Besame Mucho, cheek to cheek, com o senador Bernardo Cabral, e
acabou longe de Irajá, em Nova York, plugada na pensão de Chico Anísio -
o ex-marido reconhecidamente generoso e extremoso com os filhos.
Roseana Sarney teve sua trajetória para
presidente da República brutalmente cortada pelo primeiro-consorte Jorge
Murad, que apresentou sete versões para justificar o flagrante da
Polícia Federal numa dinheirama posta na mesa de suas empresas,
financiadas a peso de ouro por recursos nortistas injetados como
incentivos fiscais por sulistas, acusados de discriminarem o nordestino.
Rosinha Matheus ou Rosinha Garotinho ou Anthony
Garotinho formam uma mesma pessoa, apesar de havermos votado numa só.
Ele é o principal conselheiro com papel-chave de organizar a gestão da
esposa sem ser o primeiro-ministro. Um secretário sem pasta, dono do
pedaço. Um mandato informal sem assumir nenhum cargo em que se possa
cobrar responsabilidades e aproveitar a invulgar experiência de um
ex-governador que primou por piscinões, bandejões e sacolões que
estouraram os limites da paciência do contribuinte com o fisco.
Tira a credibilidade da governadora o Garotinho
comandar o Palácio das Laranjeiras estimulando o marrom da imprensa com
um arsenal desestabilizador que deveria ser disponibilizado na guerra
contra o crime organizado.
Não é que hoje em dia não seja importante saber
quem é homem, quem é mulher e se no carnaval cantavam em verso e prosa
que “rosinha não é flor que se cheire”. Mas o eleitor carece dessa
referência, pois elegeu uma voz própria e não um ventríloquo, que não se
sabe se é porta-voz ou se administração conjunta na base de cochichos
desbragados e despudorados à frente de ministros, secretários, aspones e
silveirinhas.
Tudo por causa de um homem. O desserviço à causa
da mulher. Muito mais relevante que ao Brasil. Por não estarmos ainda
acostumados. Não por outra feministas xiitas recomendam antes só do que
mal acompanhadas.
O cinismo nacional se satisfaz com atentados
contra a democracia nos episódios dos grampos e da quebra do sigilo do
painel eletrônico do Senado envolvendo um mesmo senador. Que, embora não
sendo mulher, mas onipresente, colabora substancialmente no desserviço à
causa da mulher, ao manter um concubinato com uma jovem advogada por dez
anos e desrespeitar o papel sacro da discreta esposa de um mito entrado
na idade que não copia o exemplo de seus pares.
Como o ex-rei da soja, Olacyr de Moraes,
impecável em sua postura com as olacyretes na brabeza de noitadas
paulistanas. Livre como um pássaro, como convém a quem deseja bordejar e
se sente com a energia de um garotinho a seguir as pegadas de Oscar
Wilde: “a única maneira de se livrar da tentação é ceder”.