BARBARIDADE, TCHÊ!
20 de Outubro de 2003
O Brasil poderia estar desfrutando de um
estágio superior de padrão de vida se não fora o obscurantismo do
colonialismo português em proibir escolas superiores, fábricas e até
teares, embora produzisse muito mais riquezas do que a metrópole.
Para José Bonifácio ser aproveitado como o primeiro ministro
brasileiro, levou 36 anos queimando a mufa e dando seu sangue ao
reino em Portugal. Voltou cheio de idéias como liberdade para os
índios, uma biblioteca e uma tipografia em cada capitania, a
subdivisão da propriedade territorial, a extinção da escravatura -
incorporadas à Constituição do Reino Unido, que elaborou. D. Pedro I
fechou a Assembléia Constituinte e o prendeu na Fortaleza do Lage,
preservando o regime escravagista por 64 anos -meros objetos dos
quais o senhor dispunha dos direitos de vida e morte.
Procrastinado, atuou como fator de perturbação na substituição
do trabalho escravo pelo trabalho livre, ante o êxodo das massas
trabalhadoras para os grandes centros no regime republicano.
Agravado pela falta de interesse em criar escolas públicas e liceus
nas sedes de todas as comarcas. O império encerrou suas atividades
deixando insolúveis os dois maiores problemas nacionais: a
organização da classe trabalhadora e a educação.
O mesmo sentimento que norteou a Revolução
Farroupilha (1835/45), distorcidamente considerada separatista, por
clamar respeito aos costumes do povo, o usufruto de seus recursos e
autonomia de seus governantes num regime federativo. Ungido e
inspirando por Deus, o poder central estaria sujeito a
questionamentos com o intuito de servir a uma população de 90%
analfabetos e um de quatro milhões escravos.
Uma antevisão da república e do fim do escravagismo, ainda
imberbes para confrontar os conservadores, defensores do império, e
os liberais, favoráveis à monarquia parlamentarista. Mas superou o
bestunto da Corte, contornando a abundância de carne e a
impossibilidade de conservá-la com o advento do charque, já que as
vacarias empreendidas destinavam-se à obtenção de couro e sebo.
Afinal de contas, milhares de cabeças de gado migradas da Argentina
espalhavam-se pelo pampa. O surgimento das estâncias colaborou para
dar a forma final ao churrasco gaúcho.
O que encheu a barriga e alimentou o imaginário rio-grandense a
evoluir por entre costela, paleta e matambre, fazendo entrar em
erupção o vulcão Getúlio Vargas, a influir nos destinos dos
trabalhadores do Brasil 100 anos depois.
19 anos no poder desencadearam uma intervenção branca no céu de
brigadeiro da massa remediada à custa do mínimo do salário.
Levando-o a se suicidar e transformar-se num fantasma, ainda não
enterrado, que vagueia pelo imaginário de políticos que tentam
surfar numa onda trilegal, em nome de um populismo equivocado. É a
república dos marajás, do pão de queijo, todo mundo tem um pé na
África nessa hora, se declaram crentes no combate à desnutrição
desviando recursos de hospitais públicos depauperados - possuem a
mesma valência.
Por que tamanho medo em ter elegido um presidente-operário?
Barbaridade, tchê!