AUTO-AJUDA
21 de Julho de 2003
O segredo da auto-ajuda é acalmai-vos.
Livrem-se do estado de ansiedade. Permaneçam no presente,
esqueçam o passado e não planejem o futuro, soltemos os
balões. E deixem fluir a ansiedade até que desapareça,
quando se aceitarem totalmente. Sigam-me, se não quiserem
continuar neuróticos.
Não lute contra o medo, a raiva e a rejeição, aceite-as como
uma visita inesperada e desconhecida. Não resista contra o
desconforto, se o estupro é inevitável, relaxe.
Não se detenha olhando para dentro de si,
medindo a extensão de seus sofrimentos, detalhes tão
pequenos que vão sumir ao longo da estrada que transforma
todo amor em quase nada. Observe à sua volta, como um meio
de afastar-se de seu centro, e dissolva-se! Quem não tem
colírio usa óculos escuros. Você e sua ansiedade podem ser
uma ilusão de ótica.
Não fuja, a ansiedade fatalmente o alcançará. Finja, seja
matreiro, dance conforme a música, aprenda a distinguir
velocidade de manter-se ativo. Permaneça no olho do furacão,
devagar quase parando.
O passo fundamental, não ofegar se o orgasmo se apresenta
distante. Sustenha as palpitações, acalme a dilatação do
pulmão, o tresloucamento começa com a inspiração e expiração
digladiando ao tentar invadir sua praia. Cuidado ao exalar,
pode ser seu último suspiro. Procure encontrar seu ritmo
ideal numa orquestra afinada, que respira mas não transpira,
o grande espetáculo está por começar!
Retorne ao passo 1 e repita o mesmo percurso, agindo de forma
diferente apenas para sentir a sensação de que o criminoso
volta ao local do crime para descobrir as falhas que cometeu.
Com que sentido cultivar o catastrofismo? As provas seriam
insuficientes para testar suas verdades. E das calamidades
que passaram pela sua cabeça, nenhuma aconteceu. Quando, de
fato, irrompem em sua vida, é para desmanchar a modorra que
campeia em sua rotina, segundo programação meticulosamente
estabelecida. Fazendo-o crescer e amadurecer.
A ansiedade sempre nos remete a riscos incontornáveis, quando o
perigo ronda o desconforto e o desagrado em se acomodar num
sofá em que irá mofar sem que Deus responda o que tanto lhe
aflige. Se superado esse impasse, não haverá louros para
colher, pois não se trata de uma vitória, tão-somente
tranqüilidade para lidar com visitas que não pedem licença
antes de entrar na sua casa.
Motivos fortes não existem para comemorar a gripe debelada, já
que a ansiedade é necessária para manter-se vivo, encontrar
seu rumo e manejar seu barco para longe dos icebergs. Um
sinal de alarme que o adverte a trocar o compasso da música
e não chorar por amigos em vão. Pronto para disparar a
flecha que garantirá a lei do retorno, transferindo a
ansiedade para a platéia, ávida e nervosa por chegar sua
hora e vez.
A auto-ajuda o tornará mais senhor de suas capacidades, tão
realista e confiante que o impedirão de cair na esparrela de
ser um sucesso para o bem e para o mal, no centro do mundo,
inquieto, sem tempo para esperar nada nem ninguém.