TUDO, MENOS ABÓBORA
24 de Novembro de 2003
Duas personalidades que se encaixam na
mesma mulher.
Uma paixão do tamanho da loucura de uma pisciana que faz o que
quer... e não segura sua onda. Mas esvoaça, vem até você que nem
beija-flor, não canta porque de belo já basta as asas em contínuo
movimento. Mas não é correspondida. Por isso, constrói um muro em
torno de sua casa, alegando medo de assaltantes. Quer distância,
sobretudo de mulheres que só se fascinam com amor bandido. No lugar,
sentir-se querida, abraçada em laços de ternura que se comprimem
numa aliança para fazer história. Mas o que mais teme é terminar sua
vida sozinha. Isso a deprime, tortura e dilacera sua alma. O que
provoca surtos irrelevantes, alergias desalmadas e doenças que
sinalizam um caminho sem volta. O de não ter dado conta da vida.
A outra personalidade, leonina. O mundo gira em
torno do seu umbigo, tal o narcisismo que faz seu ego se multiplicar
em mil faces. A estratégia na arte da guerra a salva pelo gongo, mas
põe tudo a perder quando a sutileza na sedução transparece
arrogância, supor-se melhor e mais bonita. Por querer ver os
holofotes projetados no seu foco. Com forte tendência de regredir ao
departamento infanto-juvenil ou ao estágio de menina-moça. Incapaz
de se questionar, por ver na sua imagem refletida no espelho a leoa
soberana no reino do leão. Se brilha o tempo todo é porque não há
nada de errado, ao contrário, tem o poder até de ofuscar. É o
momento do anticlímax, em que é agradável de conversar até a página
7. Virada a folha, namora a frivolidade, marca bobeira, torna-se um
tanto autista, ao não mais fazer contato com o outro. Tem que
destoar brilhando, pois se sabe de bem com a vida, de alegria
borbulhante e com o orgulho de ser o que é. Imersa na feliz
ignorância de que o planeta Terra oferece um montão de atrações
independente do que tem a proporcionar.
Personas que brigam contra o alucinante avanço das horas no
relógio do tempo, apavoradas com as badaladas da meia-noite, virar
abóbora nem pensar, não está no seu programa. Desdenham de príncipes
encantados - ou seria descrer? Se esgoelam, puxam o cabelo e unham o
seu próprio eu, numa disputa infernal em que o homem tem o seu lugar
de honra reservado. Para assistir e não se meter.