GUERRA DA LIBERTAÇÃO
28 de Abril de 2003
Os Estados Unidos, como nação de
guerreiros, foram batizados numa guerra de colonos contra a poderosa
Inglaterra do fim do século XVIII, sacramentando uma veneração mítica de
seus ídolos no campo de batalha e contribuindo para cunhar o caráter
nacional americano. Guerra, rifles e socos sempre constaram do
aprendizado da cidadania de gerações de americanos nos últimos dois
séculos. O circo dos horrores de conflagrações armadas está presente em
memoriais espalhados pelo mundo inteiro. A indústria do entretenimento
explora esse traço cultural em músicas, filmes, na literatura, a cultura
pop por excelência, que serve de veículo de propaganda e divulgação de
sua ideologia. Uma ode à democracia ou imperialismo?
Chegaram ao ponto de reservar um feriado
nacional para reverenciar os que morreram pela pátria - Memorial Day -,
tantas foram as revoluções, conflitos e disputas em que se meteram. Fato de que
seus descendentes se orgulham, desde a Guerra da Secessão que dividiu os EUA e
obrigou-os a matarem entre si. Uma guerra civil interpretada como a propulsora
de uma cultura que faz a ligadura de etnias, religiões, línguas e costumes que
só encontram a sua verdadeira expressão libertária em seu território.
Se rodarmos a moviola para exibir as epopéias
americanas do Iraque para a Guerra da Independência, do presente para o passado,
encontraremos a Guerra do Golfo, a derrota no Vietnã, Coréia, a bomba atômica no
Japão, o nazifascismo, Alemanha, Itália, 1ª Guerra Mundial. A Guerra
Hispano-Americana de 1898, em que toma o que restava do colonialismo espanhol
(Cuba, Porto Rico, Filipinas) e a Guerra Mexicana de 1846/48, de quem se apodera
de metade do território (Califórnia, Nevada, Utah, Arizona, Novo México,
Colorado).
A guerra representa um dos mais intrincados
dilemas que o ser humano tem por vencer na sua evolução. Já observava
Clausewitz, o famoso general prussiano da época napoleônica, antecessor dos
falcões: a guerra representa a continuação da política por outros meios. A
guerra acompanha a humanidade desde os tempos primitivos, seja movida pela
ambição que reafirma a agressividade em busca de prestígio, seja
político-ideológica como a Guerra Fria, que deixou o planeta por um fio. O fim
dela e o advento da globalização estão apenas transformando o formato dos
conflitos armados, e não evitando a sua eclosão.
Os pensadores da direita, agora agrupados no
Partido Republicano de Bush, concebem a guerra como uma arte, a arte de vencer
com equilíbrio e precisão cirúrgica de humilhar o adversário e diminuir os
prejuízos causados à população civil. Uma atividade natural exercida por uma
casta de homens superiores.
Outros argumentam na linha do homem é lobo do
homem. Um fenômeno inevitável vinculado à natureza humana instintivamente
agressiva, que escreve a sangue frio a lei do mais forte - somos nós ou eles. O
confronto de duas forças antagônicas em que o caráter violento somente acentua,
a guerra é um mero pretexto para o desforço.
Seja ela feudal ou dinástica, imperialista ou de
libertação nacional, revestida de ideologia ou religião, a sua conseqüência
sempre implicará no aumento da exploração do trabalho do povo derrotado e um
gigantesco empuxo na economia do dominador.
Uma forma disfarçada de se apropriar do que eu
mais desejo e que só você tem, a tal da guerra da libertação.