REALIDADE DOS
SONHOS
28 de Julho de 2003
Esfregamos os olhos e não acreditamos no
que estamos vendo. Vivemos em um permanente espetáculo de
mídia, onde as idéias são tratadas de forma irresponsável e
consumidas como fast-food. Revestimo-las de efeitos
especiais para mascarar realidades inquestionáveis no curso
de uma verdade pasteurizada que só consegue nos oferecer uma
forma comunista de encarar o cotidiano, com uma pletora de
costumes, simpatias e atitudes absolutamente assemelhadas.
Quando o preferível seria lançar mão de fragmentos e
caminhos oblíquos, escapando ao rigor do discurso que nos
engana, mergulhando num paradoxo de que os signos evoluíram,
tomaram conta do mundo, e hoje o dominam.
Com a intenção de transformar o povo em objeto de fetiche, ao
virar valor de uso e troca a um só tempo. São maquiavéis que
exploram os meios de comunicação de massa para produzir uma
realidade virtual que nos torna passivos, submetendo-nos a
uma hemodiálise diária que depura do sangue todo o seu
caráter ativo.
Os terroristas que destruíram as torres gêmeas
de Nova York inauguraram uma forma alternativa de violência
que se espalhou em alta velocidade, fundando o século XXI ao
atingir uma cultura calcada em dualismos maniqueístas que
regride de forma primitiva, quando atacada em seus brios e
na moral puritana anglo-saxônica - nunca mais serão os
mesmos.
Pior é que não estamos preparados para ser humanos perante a
ascensão incontrolável da tecnologia, conforme denunciado
pelo ensaísta francês Jean Baudrillard, que inspirou o filme
“Matrix” com o seu “Simulacros e Simulações".
To be or not to be? Saber fazer a leitura da relação
entre ilusão e realidade, eis a questão. A exemplo de
“Cidade dos Sonhos”, de David Lynch, deixando o público
entre irritado e maravilhado. Por onde entrar na história do
filme, sorvendo o lisérgico das sensações oferecidas no
fluir da inteligência de nossas vidas?
Inteligência que pode ser artificial a refletir relações sem
interatividade. Prefere-se a vinculação sem envolvimento,
traduzida em tiradas ocas do gênero “aparece lá em casa”,
quando se deseja o contrário. O discurso político caiu no
vazio, a palavra como agente transformador só resgata sua
percepção e entendimento no esoterismo, na religião, na
psicologia e nas filosofias alternativas, onde a ação dá
conseqüência ao pensamento, não bastando sentir, há muito
por se fazer.
Enraíza-se a impotência em corrigir as mazelas da coletividade,
procura-se fortalecer o discurso como agente transformador
do progresso individualista. E ainda nos orgulhamos de nosso
intelecto quando observamos a tolice do cachorro em querer
alcançar a pulga que morde o seu rabo, dando voltas em torno
de si mesmo.