PODEROSA AFRODITE
29 de Setembro de 2003
Martaxa é a forma com que os paulistas
apedrejam a prefeita Marta Suplicy. Não toleram seu ar ladino
soprando a poeira do bolor nas ventas empinadas de nostálgicos fiéis
ao culto de tradições, como o estilo Matarazzo, que chancelou
oligarquias da antiga província. Cismar em desfazer um casamento de
36 anos e três filhos com o senador Eduardo Suplicy, quem ela pensa
que é? Quem lhe deu autorização? Logo com o político mais correto do
Brasil, que pentelhou CPI’s e cassou dinastias que se esclerosam com
golpes sujos? Não merecia ser largado por um latin lover!
Do maior calibre e tanto melhor, diga-se de passagem. Em sendo
franco-argentino, Luis Favre escolhe vinho e saboreia carne com a
perspicácia de um mestre. A felicidade estampada no rosto do casal
de pombinhos exime o duplo sentido e agrava a inveja de paulistanas
por ele ser mais jovem, no seu quinto casamento e com um crédito de
quatro filhos. Deixando os homens entre irritados - o gajo é
argentino! - e cúmplices, na premissa de Favre estar se dando bem.
Imagem é tudo para essa sub-raça.
De onde saiu esse ideólogo para encantar a Marta
psicanalista e sexóloga? Não se fazem mais Trotsky como antigamente,
se Che Guevara acabou na Bolívia e Robespierre na guilhotina. “Casar
com a Marta é como atingir o topo do Everest! Falta ar, dá tontura.
A felicidade que estou sentindo é como a neve, eterna”, declara o
noivo iluminado, embevecido com a aura que emana dela.
A noiva retribui, reconhecendo que o amor na maturidade é
diferente, teve a sorte de encontrar um parceiro especial que a
estimula e a faz sentir mulher 24 horas por dia. Se melhorar,
estraga. Não resta mais dúvida, o amor é lindo! Fez bem à Marta em
todas as vanguardas que abraçou: a eterna juventude; a vaidade que
eleva a auto-estima; entra ano, sai ano, no maior pique; e a vontade
de superar a tudo que se dedica. Seu olhar traquinas e maroto põe o
pingo no i.
Calando a boca da torcida organizada do Eduardo, num arco que
distende da tradicional família quatrocentona a xiitas mal-amadas.
Caíram no vazio reparos morais quanto à inoportunidade em se separar
logo que iniciara sua gestão na prefeitura. Iria prejudicar sua
imagem, seu desempenho e o Partido com essa incontinência amorosa.
Não tinha uma hora melhor para cuidar de amor? Vá procurar sua
turma, política é coisa pra gente séria! Dê-se ao respeito nos seus
58 anos! Se quiser refazer sua vida, mantenha-se distante para que
não a vejamos feliz. Isso ofende - falecem na primeira esquina os
alcoviteiros.
Não perdoarão jamais o casamento na Estância Santa Rita de
Cássia, vestida ao melhor estilo de um Grande Prêmio Brasil, em que
cantos gregorianos anunciaram ser tudo possível quando a musa canta.
A poderosa Afrodite.