RAÍZES DO MARANHÃO
01 de Novembro de 2004
Quando falamos do Maranhão, lembramo-nos
sempre dos franceses, sequiosos de ver sinais de sua cultura em São
Luís, nome dado em homenagem a Luís XIII, quando da instalação da
França Equinocial em 1612 pelo Senhor de la Ravardière. Domínio esse
que não durou nem três anos, o bumba-meu-boi tomaria depois o que
lhe era de direito.
Não há em São Luís do Maranhão quem nunca tenha ouvido falar de
Ana Jansen, comerciante que no início do século XIX acumulou riqueza
e exerceu forte influência no tráfico de escravos. Cometia as
maiores atrocidades contra seus escravos, a ponto de escolher os
melhores para traçar e depois matar. Conta a lenda que nas noites de
sexta-feira costuma-se deparar, defronte ao casarão em que morava,
com uma apavorante carruagem puxada por cavalos brancos sem cabeça,
conduzindo o fantasma da falecida, que ainda paga pelos pecados
cometidos.
Ao transitar de uma base social do período
colonial voltada para a exportação do algodão suprindo a Revolução
Industrial, o Maranhão se fez província e eclodiu a Balaiada.
Reflexo do Quilombo dos Palmares, 90 mil escravos para uma população
aproximada de 200 mil habitantes. Pondo no mesmo balaio a cultura de
subsistência, a monocultura e a cultura popular, excluída apenas a
elite da cultura. Irritando João do Vale um século depois, quando
compôs “Carcará”, um bicho que avoa que nem avião, a águia do sertão
que come até cobra queimada. Tem mais coragem do que homem, num vai
morrer de fome, carcará pega, mata e come.
À frente de São Luís, a Paraty do Maranhão: Alcântara, onde
construíram uma base espacial favorecida pelos efeitos reduzidos da
força da gravidade. Comenta-se à boca pequena que os Estados Unidos
explodiram a base em represália à não ratificação do acordo para
utilização do local. Os índios já haviam descoberto que Alcântara
era um espaço para o infinito - definido no termo itapereí -, um
lugar sagrado para seus rituais.
Os portugueses enganaram os índios desde que puseram os pés no
Maranhão. Diziam que não pretendiam fixar residência, apenas
permaneceriam cinco luas e voltariam em um ano. Dormiram com as
índias e procriaram muito, deixando-as felizes de ter filhos deles.
Foi-lhes sugerido que deveriam se acostumar aos portugueses, no
futuro construiriam fortalezas e edificariam cidades para formar uma
só nação. Com o tempo, vieram os padres e as cruzes para
convertê-los à necessidade do batismo extirpador do senso pagão e
legalizarem as uniões que proliferavam - conversa fiada para
enfeitar o bolo. O ciclo de exploração não podia prescindir dos
índios como servos nos trabalhos domésticos e escravos para a
economia florescer. A exploração, para ser completa, teve que
alcançar os curumins, pois é de pequeno que se torce o rabo, pondo a
ferros toda a cultura indígena. Palavras de Monboré-Uaçu, chefe
tupinambá no Maranhão de 1612.
Quem canta seus males espanta. Diante de tantos maus-tratos aos
filhos do Maranhão, o desafio foi encontrar a paz através da
decantada cordialidade brasileira e arribar uma paixão sufocada por
minhocas na cabeça. Em nome de quem ainda se procura no Maranhão.