UNILATERAL
02 de Fevereiro de 2004
Páreo duro os muçulmanos com os judeus.
Como se não fossem oriundos da mesma mãe. Quando enfiam uma idéia na
cachola, ai de quem ousar meter a mão, cortam-na. A cada dia infligem um
golpe mais duro nos soldados invasores, ceifando vidas no Iraque que deixam
perplexa a família americana com fumaças de maus presságios. A América terá
de fugir, era o território do Islã que estava em jogo, seus inimigos estão
dispostos a matar civis inocentes, funcionários de agências humanitárias,
soldados da coalizão, a Cruz Vermelha, o que for necessário para que a
opinião pública se volte contra Bush.
De cambulhada, acabaram expondo as vísceras da democracia
americana. Bush emergiu de votos oriundos de eleições duvidosas com
apuração anacrônica, corroborando a mentalidade texana diante da
queda das torres gêmeas, um acinte ao símbolo fálico do Senhor dos
Anéis em que só coube uma decisão arrogante e unilateral de invadir
e ocupar. De forma igual a quando pisamos uma barata, esmagando a
nojenta.
Desfazendo uma aliança nascida na 2ª Guerra
Mundial para combater o nazifascismo que avalizou o compromisso com
democracias liberais que exploraram mercados egressos do fim do
colonialismo, bem como a necessidade de deter a União Soviética.
Contudo, não há lua-de-mel que não termine. Para a Europa, em
1989, ao tirar vantagem do colapso do comunismo para costurar a
política num único grande bloco econômico. Para os Estados Unidos,
em 2001, obrigando todos os visitantes a deixar suas impressões
digitais assim que pisarem no aeroporto: sorria, você está sendo
filmado! Acordam de noite, antenados com o próximo ataque
terrorista, ainda não despertos para a realidade de que estão
sozinhos. Constroem um muro em torno de si mesmos, reforçando uma
cultura voltada para atender a seus sonhos. Sonhos que imperam
liberdade e auto-realização, a sociedade se auto-regula nos limites
de suas fronteiras.
A hegemonia norte-americana é mais ameaçadora à estabilidade
global do que a tirania de Saddam Hussein. Exercem o poder soberano
e só se preocupam em partilhar a soberania quando sua segurança
falha. Com todo aparato de inteligência e cabeças pensantes que os
assessoram, suprem e influenciam, ainda não admitem que o planeta
ficou pequeno para tanta gente com celular e computador. Virou um
vício, é tanta coisa para falar, sem ter o que dizer.
Ser unilateral corre por conta do livre-arbítrio, mas se
exagerar no tom, sofre-se as conseqüências e afasta-se do convívio
com os outros - é para lá que os Estados Unidos se encaminha. Não
que seja a sétima maravilha do mundo, mas saber lidar com gente
chata, entediante e desagradável, não é dar pérolas aos porcos,
exercita-se separar o joio do trigo, indispensável para evoluir e se
desenvolver. Mantém a mente arejada. Ganha-se na capacidade de
argumentar e de construir idéias novas. Ao aproximar as cadeiras e
levar uma idéia, evita-se uma sociedade estressada, paranóica e
intolerante. Quando se celebram acordos que abrem mão do que lhe
toca, desse palavrão chamado unilateralidade.