MISCELÂNEA
02 de Fevereiro de 2004
Primeiro deixai crescer o bolo, para
depois dividi-lo. Até os salmos de Delfim Netto são chupados como
verdades acacianas e incorporados aos sermões veiculados na Hora do
Brasil. Cada palavra, sentença ou opinião de conteúdo ideológico que
o presidente Lula emitia ao longo de sua caminhada rumo ao Planalto,
muda de sentido, de lado e de caráter, a cada dia. Esvaziando o
conteúdo e o propósito que se destinavam a orientar a práxis
política. Não é que o empresário não possa ser companheiro, mas, de
banalidade em banalidade, uma carta de apadrinhamento para furar
fila de concurso público acaba se convertendo em rosário de lágrimas
de figuras públicas que não se pejam de chorar o leite derramado no
chão de nossas casas, logo depois da faxina.
A nós não se pode suprimir o direito de chorar mais, e
primeiro. A zoada em torno de lulinha paz e amor, a esperança vencer
o medo, o Zé com diploma de primeiro grau virar vice, não pode se
transformar em tristeza não ter fim, felicidade sim. Pois diante do
Taj Mahal, Lula realizou seu sonho na Índia, ao pôr os pés numa das
sete maravilhas do mundo. Interditado em sua deferência para que
pudesse apreciar o mármore cristalizado impecavelmente branco.
Pouco a pouco, colando sua imagem na de FHC, tal
a identidade alcançada, em uma simbiose longe de findar o
intercurso, o atual governo proporciona uma reviravolta gigantesca
no avanço da democracia brasileira, agora sem ameaça de ditadura
militar. Típica do colonizado que se espelha no colonizador, não
existe diferença gritante entre o Partido Republicano de Bush e
Reagan e o Democrata de Kennedy e Clinton.
Sutil como o Zé Dirceu, que cultiva a vassalagem como uma
cannabis que aliena políticos outrora veementes no escrúpulo do
discurso, agora agarrados como náufragos nos andaimes do poder.
Dividir para reinar, intencional a miscelânea para governar.