INCOMPATIBILIDADE
05 de Abril de 2004
Quando a mulher é solteira, ou quer
permanecer solteira, fissurada em ainda poder seduzir e virar a
cabeça do mais fiel dos homens, não se descuida nem por um
segundo da aparência, ao confrontar-se no espelho com coragem.
Perder as formas é coisa para amadora que já conquistou seu
homem, a sedução perdeu o encanto, cansou-se da disputa, e virou
baranga.
Barangas ignoram que cafuzas sestrosas não se intimidam com
homens que pretendam colonizá-las ao feitio de oração de
senhores-de-engenho que a desprezam como indiazinhas,
inconformados com a atração que sentem por genes que não se
curvaram à raça branca.
Brancas azedas de cultura européia, perdidas na
tradução do efeito dos trópicos, se levantam da mesa em meio ao
jantar e os deixam sozinhos com suas mal traçadas idéias,
julgando-se superiores em gênero, número e grau. Findam gretas
garbos no deserto do amor, sem ter onde esconder seus impulsos
sexuais mais legítimos, nuas restando por não poder abraçar a
quem mais quiseram. A quem mais amaram. Uma instituição a
caminho da falência - o homem de suas vidas, que deixaram
escapar.
Incompatibilidade.
Quando os opostos se atraem. Quando um nada tem a ver com o
outro. Quando ao se procurar a alma gêmea, o objeto obscuro do
desejo se encontra no extremo oriente, onde o mais muçulmano de
Meca não cruza com o mais budista do Tibet. Onde a veemência de
suas veias pulsando, o cheiro forte que emana de sua boca e os
olhos inundados de lágrimas, ainda não permitem que se quebrem
as barreiras e entrelacem um ao outro, num beijo irreparável que
dissipe por completo as suspeitas, vacilos e senões que pontuam
suas trajetórias.
Não se detenha no ponto morto, é possível amar o próximo.