ADEUS AO MESSIAS
05 de Abril de 2004
O presidente Lula dá sinais de abandonar
as metáforas futebolísticas em favor das cristãs. Sem dúvida, uma
evolução para quem começou afirmando não poder falhar, pressionado
pelas suas origens no operariado e no nordestino que migrou para São
Paulo em busca de melhores condições de vida. Resultado: bateu no
teto, ao confundir-se perigosamente com a figura do Messias, graças
ao seu carisma inegável.
Caiu na realidade de não possuir poderes divinos para mudar o
país. Tomou um porre de felicidade na euforia da vitória e caiu na
armadilha de poder fazer tudo, em havendo disposição. Valeu-se da
retórica do otimismo, no âmago da filosofia, presunçosa e irônica,
para encobrir que não há dinheiro. Recursos suficientes para
investimentos que possibilitam a retomada imediata do crescimento
econômico e a geração de empregos. Promessa de campanha.
Mas como o presidente Lula confessa uma aversão
à ciência da política e seus desvãos intelectuais - prefere a
prática -, toda vez que ocupa o púlpito, procura explicar para si
mesmo em que direção a economia está adernando: se para os lados ou
para o fundo. Inconformado com a situação de presidente que se elege
para ficar paralisado e empalado por uma dívida dolarizada que
estupra o país quando bem entende. Equivalente ao cidadão sair de
casa, procurar emprego e encontrar as portas fechadas.
E o presidente teima. Resiste ao não admitir que haja
divergências internas, exploração de oportunistas que as inflam por
conta de eleições que se aproximam. A essência da democracia, a arma
do cidadão. Minimiza cobranças, justifica-se nos gargalos ambientais
e maximiza esqueletos que tira do armário. Fecha o conjunto da obra
ao negar que haja crise no governo.
Graças a Deus, somos um país católico. Pedro que o diga, negou
a Cristo três vezes antes do galo cantar.
Melhor fingir-se de morto e imitar José Sarney, que faz parte
da elite dirigente do país há mais de quatro décadas e hoje é o
ponto de equilíbrio do governo Lula. Capaz de acelerar propostas
progressistas, dependendo do hemisfério que se analise, como
engavetar CPI’s. A caminho de criar uma república de zés. Para
suceder ao atual governador do Maranhão, Zé Reinaldo, vem aí
Zequinha Sarney, irmão de Roseana. O Zé Dirceu que se cuide, será
inevitavelmente cooptado.