DEGOLA
07 de Junho de 2004
A autoria do presídio de papel é de
Rosinha, a governadora. A última rebelião ocorreu na Casa de
Custódia de Benfica, em que presos fizeram verdadeiras crateras na
parede, por onde passavam as cabeças para conversar com parentes que
estavam na rua. Depois do almoço, farmácia e hotel, construíram o
presídio a um real. Os moradores das redondezas acham que tem um
dedinho de Sergio Naya nessa história, afinal ele lá se encontra
hospedado.
A mistura de facções de marginais - algo como juntar a máfia
dos adulteradores de gasolina, da saúde pública e dos engavetadores
de processos num cubículo - levou-os a se exterminarem, mutilarem,
queimarem vivo e degolarem. Somente não ultrapassou a cifra de 50
mortos graças ao pastor Marcos, que conduziu as negociações a pedido
dos amotinados. Um crente a serviço da evangelização de detentos e
que se tornou especialista em sufocar revoltas em casas de custódia.
Acusado por agentes penitenciários de operar a soldo de uma das
facções, já fundou sua igreja com filiais em Coelho Neto, Duque de
Caxias, São Luís do Maranhão e Maringá.
A ditadura tinha medo de que os presos políticos
fizessem a cabeça dos presos comuns, graças ao seu berço que lhes
deu preparo para desenvolver metodologia de ações políticas cuja
inteligência os militares não alcançavam. O resultado dessa
limitação foi o aniquilamento total dos comunistas, através de
torturas, ratos esfomeados enfiados na vagina das que se
distanciaram do forno e fogão - na sua concepção -, e lotes de
infelizes jogados de aviões em pleno oceano.
Contudo, é forçoso reconhecer que houve uma evolução.
Assim como a guilhotina é o símbolo da Revolução Francesa, a
degola procede do pré-islamismo, dos sarracenos com suas cimitarras.
A Al Qaeda está apenas colocando em destaque um valor de sua cultura
em contraste com a tecnologia de mães-bomba e aviões invisíveis.
Depois que Saddam virou bichinho de estimação de Bush, que guardou
como souvenir a pistola do iraquiano, a facção extremista da Arábia
Saudita está promovendo uma onda semelhante à que derrubou o Xá da
Pérsia e detonou quaisquer vestígios da civilização ocidental no
Irã, implementando o regime dos aiatolás. Querem repetir a dose,
expurgando a família real acumpliciada com os interesses americanos,
e nada melhor que isso nos domínios de Alá, sob a benção de Meca.
Os bandidos, hoje alcunhados de traficantes, desceram o morro
e passaram a desconhecer a demarcação que existe entre pobres e
ricos. Na sua maioria, jovens, negros ou mulatos, com pouca
escolaridade, sem religião, segundo levantamento com base no Censo
2000. Sem lenço nem documento, começaram por meter a mão em
bicicletas, correntinhas e bolsas de praia. Evoluíram para
automóveis, lojas, casas mal-muradas e prédios a demandar policiais
no lugar de porteiros. Seqüestros-relâmpagos, saques a carro-forte e
caminhões na estrada. Finalmente, o negócio mais rentável: o tráfico
de drogas. Pelo qual justiçam e são justiçados.
A degola como elo.