JUSTIÇA EMASCULADA
09 de Fevereiro de 2004
Veja se você entende a burocracia
institucional-política em que estamos metidos.
O governo Lula abriu uma nova frente, a reforma do Judiciário.
Essa, de respeito, para impedir que um caso já julgado pelo Supremo
Tribunal Federal seja analisado por outra corte e que uma burocracia
de recursos postergue em média dez anos o julgamento em definitivo
de um processo. Mesmo assim, se o prejudicado puder bancar
advogados. A solução estaria no controle externo do Judiciário, de
um conselho formado por magistrados de todos os ramos e de
representantes da sociedade civil eleitos pela Câmara e pelo Senado,
distante do corporativismo e das injunções políticas estaduais.
Bem a calhar, quando juízes, às vésperas de se
aposentar - inominados graças ao sigilo da Justiça -, liberam bens
de Sérgio Naya bloqueados para pagar indenizações das vítimas do
desabamento de prédios com nome de palácios. No intuito de facilitar
acerto de contas com sócios antes que os próprios lesados tivessem
sido ressarcidos, baseados no princípio de quem vai à fonte primeiro
bebe água limpa. Contrários, evidentemente, ao julgamento dos atos
do Judiciário por considerarem-no como emasculação de vossas
excelências.
Na contramão, a Justiça Federal manda Rosinha Garotinho aplicar
na saúde os recursos milionários destinados no orçamento para cuidar
da imagem do governo e considerar os projetos sociais do Estado - o
Cheque-Cidadão, a Sopa da Cidadania, o Restaurante Popular - como de
caráter assistencial. Com o objetivo de recompor perdas na área
médica nos últimos anos em que economistas confundiram pagamento de
juros com enormes filas e ausência de leitos nos hospitais.
Se a rivalidade entre paulistas e cariocas beirava o
provinciano, o presidente, ao adotar a nacionalidade paulistana no
exercício do poder, tornou-a pior. Provando que os olhos de dona
Marta não encantam apenas franco-argentinos. Construir um oleoduto
da Bacia de Campos para instalar uma refinaria em São Paulo tem o
mesmo peso que os Gaviões da Fiel representarem o samba da raiz. Sob
a chancela de um geólogo como presidente da Petrobras. Em flagrante
desprezo pela população do Rio de Janeiro, que consagrou Lula com
80% dos votos.
Emasculam nossa inteligência quando o presidente do Supremo
recorre à televisão como líder sindical dos magistrados e fazem
pouco da saúde do povo, se medida pela moeda assistencial ou pela
rede de esgotos, dependendo da falta ou do excesso despejado, que
nos deixa doentes.
Castrados votamos para recuperar a soberania do cidadão. Isso é
o que dá não se aplicar nos bancos escolares. Aquela chata da
professora tinha razão, Dona Estela com a caretice das regrinhas de
Português, Mestre Hermínio sempre tossindo teoremas, a gostosa da
Dona Neide a provocar com sua Biologia e a Doutora Maria Augusta, um
espetáculo na História. A recordar datas, nomes e baías ocupadas por
invasões bárbaras que fazem sonhar qualquer imberbe com mares nunca
dantes navegados. E conseguir nos meter na enrascada de tirar prazer
do ensino. O desafio.