PESSIMISMO
09 de Agosto de 2004
Esse é o verdadeiro risco-Brasil e não o
medido por índices econômicos: a nação é a 109ª em matéria de exclusão
social, embora tenha avançado no combate ao analfabetismo e não se encontre
entre os 40 países que concentram o maior número de miseráveis do mundo. No
entanto, ostenta índices vergonhosos, mesmo se comparado a seus pares do
Terceiro Mundo, ao claudicar na desigualdade social, no desemprego e na
violência. Somos o 5º país mais populoso do mundo e o 9º dentre os 10 piores
em concentração de renda; à nossa frente, Namíbia - a pior -, Lesoto,
Honduras, Paraguai, Serra Leoa, Botsuana, Nicarágua e República
Centro-Africana. O Brasil é o 3º em volume de desempregados: de cada 100 no
mundo, 5 estão ao nosso redor. E não descobre a saída para explicar o 15º
lugar em número de assassinatos por dia, atrás de Honduras, África do Sul e
Colômbia nas 3 primeiras colocações.
Miseráveis correspondem a 50% da população do planeta,
considerado o critério de pessoas que vivem com até US$ 2 por dia.
Com US$ 2,77, o Brasil está um pouco melhor do que os miseráveis,
liderados por Zâmbia e Nigéria. Dado revelador da evolução da
espécie humana são os 736 milhões de jovens e adultos analfabetos no
planeta - 1/5 da população mundial.
Se confessarmos que se esgotaram as esperanças
na humanidade, teríamos que dar razão aos bandidos quando nos
assaltam: “perdeu, perdeu!”. Que reste ao menos uma esperança débil,
senão viramos seres abúlicos. Mas se cada vez se mata
irracionalmente, volvemos a um estágio primitivo cuja inteligência
estacionou num estado de apatia e imobilismo, sem capacidade de
apresentar alternativa, seguir rumo distinto ou sustar a inevitável
colisão com seu próximo. Quem tem mais a perder?
Os que só pensam em si, ao não admitir que seu ego seja
trucidado por um tiro ou veículo assassino, ou mesmo uma doença
maligna. Se vêem relegados ao abandono em seu microcosmo imaginário
que tem por base a terra onde nasceu, quando não é uma ilha. Se
tornam apocalípticos e começam a se arrepender de ter deixado
descendência. O que é que os filhos e netos irão herdar? Um mundo de
terrorismo em que se sacrifica a liberdade e a privacidade em nome
da segurança? E cruzam os braços, sem entender pitibiriba. Esperando
a banda passar.
Segundo Verissimo, todo preâmbulo é desmentido pelo que vem a
seguir. “Eu não sou racista, mas...”, “eu não quero ser chato,
mas...”, os pessimistas confirmam a regra: “eu não perdi as
esperanças, mas...”. Voltados para o seu umbigo, com a vaidade
martelando, por que nasceram tão mal-acabados? Ou com uma
personalidade autocentrada em não se considerar respeitado e
valorizado, em função de seu percurso e feitos. Jamais admitirão que
perderam a capacidade de amar - se é que a tiveram. Pois se
encontram ruminando etecétera, etecétera, etecétera...