DIALÉTICA
12 de Julho de 2004
Vai entender a cabeça do eleitor carioca
que elegeu Cesar Maia como prefeito em 1992, dando início à defenestração do
brizolismo no Rio de Janeiro. Depois ungiu Conde nas urnas, sua continuação,
a exemplo de Pitta do Maluf. Em 1998, a criatura se voltou contra o criador
e o eleitorado se dividiu quase que salomonicamente. Agora se aproxima um
novo confronto e o eleitor de Conde ameaça migrar de novo para Cesar, no
desconforto com o vice da Rosinha. O que levou Garotinho, morrendo de
preocupação, a matar Brizola do coração ao lhe oferecer a candidatura do
Conde, na seqüência de “quem matou Lineu?”, de olho no espólio de Brizola. O
que explica Rosinha ter caído em prantos no velório, pois Brizola
representaria um avozão que a colocaria no colo para agüentar os rojões de
inimigos políticos e traficantes.
Vai entender a empáfia da seleção francesa em campo, que só
joga na conta do chá na certeza de que a vitória é líquida e certa.
No frisson de superar os brasileiros no ranking, em nome da Europa,
esqueceu-se de fazer o dever de casa ao não olhar para os próprios
pés. Até ser brindada com um presente de grego, obrigando-a a mais
um imprevisto regresso ao lar .
Vai entender os EUA que, ao invadirem
Afeganistão e Iraque, presentearam Osama bin Laden com uma onda
antiamericanista grassando no mundo a incitar os muçulmanos a atacar
a América armada. Já se afigura uma derrota como a do Vietnã, os
grupos muçulmanos insurgentes não têm nada a perder, senão defender
o seu solo sagrado, suas crenças e o modo de vida oposto ao dos
americanos. Se Bush perder as eleições, a vitória será de Alá.
Haverá carnaval no deserto.
Vai entender a psicologia do Felipão, que só gosta de vencer
matando o torcedor do coração. Conseguiu reverter o torcer de
bigodes dos portugueses e uni-los em torno do meu Portugal querido,
somente não se tornando um mito porque havia uma Grécia no meio do
seu caminho. Começa escalando o time pior para expor os medalhões ao
ridículo, depois vai substituindo ao longo dos jogos e compondo a
equipe, quando instala uma competição saudável entre titular e
reserva. Joga o melhor de acordo com as vitórias obtidas, restando
ao barrado entrar nos minutos finais para provar que o técnico não
tinha razão. Aí recomeça uma disputa que não adianta cara feia e
sacrifica romários, pisando no calo de jogadores famosos que se
enchem de ares por conta da fama e estacionam.
A dialética. Hegel tratou como uma lei que caracteriza a
realidade como um movimento incessante e contraditório, condensável
em três momentos sucessivos - tese, antítese e síntese - que se
manifestam simultaneamente em todos os pensamentos humanos e em
todos os fenômenos do mundo material. Elio Gaspari, em seu livro “A
Ditadura Encurralada”, abre o baú da História e levanta imprecações
do General Geisel contra uma ditadura de botocudos em que havia um
governo paralelo comandado por SNI’s, DOI’s, CODI’s, organizações
espúrias que prendiam quando e quem eles queriam. Sujando a farda de
uma instituição de honra. Ou se consertava essa geringonça, ou então
era melhor fechar. Fora eleito pelo Congresso, não iria ficar quatro
anos agüentando besteiras de coronéis, majores e capitães,
sustentado por baionetas do Ministro do Exército. Acuado, Geisel
gerou a antítese.
No golpe de 1964, a tese, com a ameaça dos marinheiros ocuparem
o lugar dos almirantes, dos bóias-frias desapropriarem os
fazendeiros e dos empregados pretenderem ser patrões. A justificar a
deposição de Jango Goulart da presidência e não realizar as
eleições, os militares se encarregariam de construir um “Brasil pra
frente”. Livre da corrupção, do radicalismo e da balbúrdia. De lá
para cá, tudo mudou, o comunismo acabou, o volume de desempregados
aumentou e no informal a economia cresceu.
Vai entender a síntese. O racionalismo da fórmula anticomunista
foi contraditado pela prática de tortura e execuções própria de uma
ditadura, ensejando a dialética. A única maneira pela qual podemos
alcançar a realidade e a verdade, procurando preservar o que ficou
de melhor no confronto de idéias. O ponto de partida para o
indivíduo se transformar ao invés de negar-se para autodestruir-se.
O espírito da coisa.
Lógico, não? O que é a lógica, senão a vida do Espírito?