COLISEU
13 de Setembro de 2004
Vitória da Al-Qaeda. Qualquer garoto com
dinamite na cintura pode explodir todo o sistema de segurança dos
Estados Unidos, por mínimo que seja o dano causado. Todos os jornais
noticiam como é fácil entrar em usinas nucleares e indústrias
químicas. Os tempos de Pearl Harbor e da Segunda Guerra voltaram
como uma maldição anunciada. O governo Bush só quer mostrar serviço,
as precauções tomadas são inócuas, como a de obrigar todo mundo a
tirar o sapato no aeroporto. Encerrou o país em si mesmo e apunhalou
o direito sagrado de ir e vir, ao restringir a imigração de cidadãos
que agrupa em uma lista negra de países, independente do caráter de
Alá. Todo o sistema de alertas não faz sentido: se existe risco de
atentado através de helicópteros e limusines-bomba, que se evacue o
país. Tocou horror, é a confissão inequívoca de que espera
pacientemente por um novo ataque do gênero do Antraz e de que, se
Alá é grande, Deus é a América - refém do terror.
Inacreditável como a Al-Qaeda fustiga, sem piedade, os medos e
ansiedades que colocam em risco o sonho dourado de viver em
segurança no império da democracia. Tornaram o Tio Sam um alvo à
mercê de uma pátria sem nação. Sem território para os americanos
darem uma resposta à altura e aniquilarem o inimigo - o truque do
Iraque não colou. A Al-Qaeda descobriu, com seus tambores de guerra,
como alimentar uma paranóia e corroer por dentro o american way
of life.
O resultado é o aumento das doenças ligadas ao
estresse desde o 11 de setembro. O cansaço progressivamente
substitui o medo. Um desalento por não ver saída. Ver os seus rios
contaminados por um sentimento de ódio dirigido à sua cultura, é
querer implodi-la. Contaminados pelo vírus do terrorismo, o
patriotismo foi a senha para manipular a informação e utilizar a
mesma arma.
A despeito do elevado grau de instrução, liberdade e justiça,
pouco sabem de culturas alienígenas. A não ser quando oriunda de
outra ilha, o Reino Unido. Confundem muçulmanos com tribos, tendas
com cavernas, sua túnica com trapos, mil e uma noites com orgia.
Alcançaram uma linha de raciocínio tão prática e sofisticada que não
entendem o rústico e incongruente com os padrões de globalização.
Os Estados Unidos sempre manipularam informação e conhecimento
às custas de muita publicidade. Durante os últimos 50 anos, três
canais de TV - CBS, NBC e ABC - dominaram a mídia e emplacaram suas
versões da História. Mas esse modelo está em decadência. A TV a cabo
cresce em cima da TV aberta, cujo público diminui, envelhece e
vincula-se ao de menos instrução, o que torna o veículo menos
atraente financeiramente. Os jovens preferem a internet, inclusive
porque divulga o que a imprensa oficial não se autoriza a furar, em
respeito ao pensamento único de não pretender negociar com bandidos.
O que está em jogo é a degola, seja sob a forma de terrorismo
ou guerra de propaganda, com tal grau de selvageria que pode se
irradiar como uma epidemia.